Detetado em outubro do ano passado, o Oumuamua continua a representar mais dúvidas do que certezas, que, na verdade, é só uma: A velocidade a que se deslocava indica tratar-se um “objeto interestrelar”. As observações feitas até agora sugerem que o invulgar objeto anda a vaguear pela Via Láctea sem ligação a qualquer sistema solar há centenas de milhões de anos.
Batizado de Oumuamua, trata-se de um objeto rochoso, em forma de charuto, com cerca de 400 metros de comprimento (provavelmente 10 vezes mais comprido do que largo), o que o torna diferente de qualquer objeto alguma visto no nosso sistema solar.
Agora, astrónomos da Universidade de Harvard admitem a possibilidade de se tratar de uma nave alienígena enviada para investigar a Terra, num estudo que vai ser publicado na próxima semana no Astrophysical Journal Letters.
A invulgar teoria foi recebida com ceticismo na comunidade científica (e nas redes sociais, claro), mas que informações têm os investigadores do Harvard Smithsonian Center for Astrophysics para avançar publicamente com tal hipótese? O excesso de aceleração, sobretudo.
A aceleração inesperada durante a passagem e a saída do nosso sistema solar, em janeiro deste anos. “Considerando uma origem artificial, uma possibilidade é que o Oumuamua seja uma vela solar a flutuar no espaço interestelar como um destroço de um equipamento tecnológico avançado”, escrevem os autores, sugerindo que o objeto pudesse ser movido a radiação solar. “Isto explicaria várias anomalidas do Oumuamua”, acreditam, como a sua geometria invulgar, a sua baixa emissão termal, o seu desvio de uma órbita Kepleriana ou a sua rotação.
“Em alternativa, num cenário mais exótico, o Oumuamua pode ser uma sonda completamente operacional enviada intencionalmente para a Terra por uma civilização alienígena vizinha”, pode ler-se.
Os argumentos não convenceram os pares. Num email enviado à CNN, Alan Jackson, do Centro de Ciências Planetárias da Universidade de Toronto, cita Carl Sagan: “‘Alegações extraordinárias exigem provas extraordinárias’ e neste estudo faltam provas, quanto mais provas extraordinárias.”
Jakson, que também se tem dedicado ao Oumuamua, acredita que os dados de esprectro do objeto não apontam nada para a possibilidade de se tratar de uma vela solar (os investigadores de Harvard sugerem que a possibilidade de estar coberto de pó interestelar oculte a sua assinatura espectral verdadeira). Além disso, uma nave funcional “quase certamente ira retrair a sua vela solar, uma vez no espaço interestelar, para evitar danos”. “A vela é inútil longe da estrela.” Por outro lado, a rotação do Oumuamua também seria mais suave, acredita Jackson, se se tratasse de uma vela solar, mesmo que estivesse danificada. Entre vários outros cálculos, o investigador argumenta ainda que as velas solares não podem mudar de rota uma vez lançadas, pelo que seria possível seguir o seu caminho até à origem, algo que se tem revelado impossível.
Já uma dupla de astrofísicos brasileiros considera que a idade estimada para Oumuamua afasta a “hipótese alienígena”. Os dois cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro conseguiram estimar a idade do Oumuamua entre 200 e 450 milhões de anos, num trabalho que será publicado este mês na Monthly Notices of the Royal Astronomical Society. Esta idade faz do objeto um “jovem” para o espaço. “É muito pouco tempo para a vida surgir, evoluir, e chegar a seres vivos com capacidade para explorar o espaço. Na Terra, foram 4,5 mil milhões de anos para isso”, explica Felipe Almeida Fernandes, em declarações à imprensa brasileira.
Outros, como Coryn Bailer-Jones do Instituto de Astronomia Max Planck Institute, não são tão céticos em relação à teoria dos colegas de Harvard. Bailer-Jones sublinha que se está a falar de especialistas em velas solares. “Eles só mencionam a palavra ‘alienígena’ uma vez, destaca, resumindo não ter “qualquer problema com este tipo de estudo especulativo”.
O Oumuamua foi descoberto a 19 de outubro pelo telescópio Pan-STARRS 1 da Universidade do Havai. O investigador Rob Weryk foi o primeiro a identificá-lo e a perceber, depois de procurar nos arquivos de imagens do Pan-STARRS 1, que o objeto já tinha sido captado na noite anterior. E rapidamente percebeu também que este era um objeto incomum: “O seu movimento não podia ser explicado com nem com órbita de um asteroide normal do sistema solar nem com a de um cometa.”A 2 de setembro, o objeto passou dentro da órbita de Mercúrio e fez a sua maior aproximação ao sol a 9 de setembro. Impulsionado pela gravidade do Sol, inverteu a trajetória e passou por baixo da órbita da terra no dia 14 de outubro, a cerca de 24 milhões de quilómetros.
Imediatamente após a descoberta, os telescópios de todo o mundo entraram em ação para analisar o asteroide, permitindo perceber que o Oumuamua tem uma variação de brilho muito superior à de qualquer asteroide ou cometa conhecido, além de ser também o objeto mais alongado alguma vez detetado.
A 20 de novembro, o asteroide viajava a 38.3 Km/segundo e estava a 200 milhões de quilómetros da Terra. No dia 1 de novembro passou na órbita de Marte e passará pela de Júpiter em maio de 2018. Em janeiro de 2019 estará a passar por Saturno, a caminho de sair do nosso sistema solar, rumo à constelação de Pegasus.
O nome técnico do objeto é 1I/2017 U1, atribuído pela União Astronómica Internacional. O nome Oumuamua foi ideia da equipa do PAN-STARRS e é o havaiano para “mensageiro de longe que chega primeiro”