A poluição atmosférica provoca doenças respiratórias e cardiovasculares, além de cancro do pulmão, e estudos científicos também já a correlacionaram com danos no ADN e no sistema imunitário, apontando-a ainda como possível causa de demência, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Uma nova pesquisa em Inglaterra vem agora reforçar esta última ligação. “Descobrimos evidências que associam os níveis de poluição do ar em Londres a diagnósticos de demência”, lê-se nas conclusões de uma equipa de investigadores de três universidades londrinas.
A população residente em áreas com elevados níveis de dióxido de nitrogénio e partículas finas inaláveis “enfrenta um risco maior” para desenvolver a doença de Alzheimer mas também a Demência Vascular, as duas formas prevalentes de demência, indicam os autores do estudo, que avaliaram mais de 130 mil adultos, dos 50 aos 79 anos, ao longo de sete anos. Mais de duas mil destas pessoas foram diagnosticadas com alguma forma de demência durante o período em questão, com muito maior incidência (+40%) em zonas fortemente poluídas, sobretudo por estes gases resultantes do tráfego intenso na capital inglesa.
“Acredito que temos agora o conhecimento suficiente para acrescentar a poluição do ar aos fatores de risco da demência”, sustenta, em declarações do The Guardian, Frank Kelly, professor de Saúde Ambiental no King’s College London e um dos envolvidos no estudo, publicado no BMJ Open Journal.
A exposição a fortes concentrações de ozono, outro dos principais poluentes ao nível da camada inferior da atmosfera, não mostrou a mesma relação causa-efeito do dióxido de nitrogénio e das partículas finas inaláveis, como é designada a complexa mistura de sulfatos, nitratos, metais e outras componentes nocivas para a saúde que facilmente entram nas vias respiratórias, na corrente sanguínea e, segundo revelou uma investigação divulgada na semana passada, podem também alojar-se na placenta de mulheres grávidas.
A realidade portuguesa
De acordo com o mais recente relatório Health at a Glance, da OCED, publicado em 2017, Portugal é o quarto país com maior prevalência de demência entre os 44 analisados (os 36 que fazem parte da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico e oito candidatos e integrá-la). No ano passado, apenas Japão, Itália e Alemanha apresentavam mais casos de demência por cada mil habitantes. Para 2037, com o envelhecimento da população, a estimativa aponta para que Portugal ultrapasse a Alemanha.
O mesmo relatório indica, por outro lado, que 24% da população portuguesa esteve exposta, em 2015, a níveis de partículas finas inaláveis acima do recomendado pela OMS. Entre os 44 países analisados, a maioria viu toda a sua população à mercê destes poluentes, considerados os mais perigosos. Dos nove países com melhor desempenho do que Portugal, Islândia, Canadá, Nova Zelândia, Suécia, Finlândia e Austrália foram os únicos capazes de manter todo o seu território abaixo do limite recomendado.
A Agência Europeia do Ambiente (AEA) monitoriza, minuto a minuto, a qualidade do ar na Europa e disponibiliza a informação através de um mapa interativo. Esta quarta-feira, às 9 horas, era este o panorama no que respeita à concentração de dióxido de nitrogénio (imagem 1) e de partículas finas inaláveis 2.5 (imagem 2). Em 2013, registaram-se mais de cinco mil mortes prematuras em Portugal como consequência da exposição a estas partículas, segundo a AEA.