São 15 relatos dramáticos de quem esteve entre a vida e a morte, de quem viu a sua casa ruir como um castelo de cartas, de quem ficou sem o seu sustento. Histórias reais, com fogo por trás. Memórias daquele dia 15 de outubro, contadas na primeira pessoa, para que as outras pessoas, aquelas que não viveram isto, não se esqueçam do que se passou no centro do País. Não se esqueçam do que ainda é preciso fazer para reerguer aquela região. Porque as coisas têm andado muito devagar, devagarinho e ainda há muitas casas para pôr de pé e milhares de árvores para plantar.
Mas, e este é um grande mas, os realizadores desta série de documentários que vai estrear-se no domingo, 28, em 15memoriasdofogo.pt, não querem passar uma ideia de uma população de “coitadinhos”. “Antes pelo contrário, é gente muito forte, que logo no dia seguinte aos incêndios já estava a pensar o que fazer para sair daquela situação”, garante Rodrigo Oliveira, 36 anos, designer de profissão, mas agora na pele de realizador desta série de 15 episódios, que serão lançados na net, com intervalos de 15 dias.
A insistência no número 15 não é casual. É para marcar o dia em que tudo mudou para quem presenciou a força das chamas. Rodrigo, por exemplo, não perdeu nada, mas esteve a combater os fogos numa freguesia de Arganil, onde vive. Aliás, desde essa data que andava inquieto para ajudar os seus conterrâneos e, por isso, acabou a criar a SOS Arganil, que muito tem feito pela dignidade da região. E, espante-se, a ajuda não tem esmorecido com o tempo: “Ainda no último fim de semana tivemos 150 voluntários no terreno.”
Tiago Cerveira, 27 anos, vive em Oliveira do Hospital e é fotógrafo, mas em Memórias do Fogo, projeto pro bono, totalmente financiado por eles, assume também a realização. E a intenção deste documentário: Criar memória futura para que todos percebam o que se passou, em pormenor. “Não queremos que isto caia no esquecimento”, reforça Rodrigo Oliveira.
No entanto, estes episódios de 5 a 7 minutos, quase todos prontos para serem lançados, não se fecham naquele dia 15 de outubro. Há um discurso de esperança e ensinamento, apontado para o futuro. “O que esperam ver mudado no território?” Eis a pergunta transversal a todos os protagonistas desta série de documentários. Aguardemos pelas respostas, mas por enquanto espreitemos o trailer do primeiro episódio.