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Desde 2008 que a vacina contra o cancro do colo do útero faz parte do Programa Nacional de Vacinação (PNV). Uma medida que terá um forte impacto na redução de um dos principais problemas oncológicos a afetar as mulheres, ao evitar a infeção pelo Papiloma Vírus Humano (HPV), um agente de transmissão sexual e que causa a doença.
O novo PNV, que entrou em vigor a 2 de janeiro, inclui uma versão atualizada da vacina, que protege contra nove estirpes do Papiloma Vírus Humano, em vez das quatro da formulação anterior. Previnem-se, assim, nove em cada dez cancros associados ao HPV. “É uma vacina que nos protege a longo prazo”, sublinha Graça Freitas, Sub-Diretora Geral da Saúde. “A curto prazo já se viu uma grande redução nas verrugas genitais, também causadas pelo HPV”, acrescenta.
Outras novidades são a inclusão da vacina contra a tosse convulsa nas grávidas – uma medida que pretende proteger os bebés, que recebem imunidade da mãe, mantendo-os a salvo até aos dois meses, altura em que já podem ser eles próprios vacinados contra esta doença. A periodicidade para o reforço da vacina anti-tetânica foi alargada para os vinte anos, até aos 65, altura em que passa a ser de dez em dez.
Por muito bom que seja um programa de vacinação, e o nosso é um dos melhores do mundo, há sempre ajustes que precisam de ser feitas. Quer para acrescentar, quer para exxluir. Por exemplo, a BCG – contra a tuberculose -, foi eliminada em meados do ano passado, exceto em regiões do país onde há muitas pessoas doentes.
Em termos de vacinação contra o HPV é possível que venham a ocorrer mais alterações. Neste caso, relativamente à população alvo. Em Portugal, e na maior parte dos países, apenas as meninas/mulheres “nascidas após 1992 estão contempladas”, sendo que está demonstrada a eficácia da vacina até aos 45 anos, alerta o ginecologista Daniel Pereira da Silva, que defende que estas mulheres que não receberam a vacina de forma gratuita o façam, caso possam, a título privado. É que além do cancro do colo do utero, para o qual existe rastreio, o HPV também pode causar cancro da vulva, vagina, ânus e orofaringe.
Nos rapazes, pode provocar ainda cancro do pénis, daí que se discuta o alargamento da imunização aos rapazes. Esta é a recomendação nos Estados Unidos, onde o Centro de Controlo de Doenças estima que ocorram 11 mil casos anuais de cancro causado por HPV, em homens. Alguns países europeus, com sistemas de saúde mais parecidos com o nosso, como a Áustria, a Suíça e a Noruega, também optaram pela vacinação de rapazes e raparigas, nota a pediatra, especialista em infecciologia, Filipa Prata. Membro da comissão de vacinas da Sociedade Portuguesa de Pediatria/Sociedade de Infecciologia Pediátrica, a médica clarifica: “Em Portugal não é previsível a vacinação universal do sexo masculino no âmbito do PNV. No entanto, consideramos que, em Portugal, a título individual, a vacinação contra o HPV pode ser oferecida a todos os adolescentes do género masculino.”
A médica, do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, avança que há já muitos casos de pais que decidem vacinar os filhos por conta própria, o que pode chegar aos 500 euros, no caso de serem necessárias três doses da vacina.
Especialista em saúde pública, Graça Freitas admite que a discussão não está ainda fechada. Analisando-se sobretudo grupos de maior risco de transmissão do HPV, como os homens que têm sexo com homens.