O abacate é rei do guacamole, superalimento, fruta da moda, gordura saudável. É tudo isto e também um destruidor de solos e um elemento poluidor do ambiente: o abacate, que hoje é parte fundamental de muitas dietas e receitas, está a ser plantado em excesso e começa a constituir um perigo para a sustentabilidade dos solos.
O boom da plantação e da colheita começou há poucos anos. Na zona oeste do México, onde antes se viam florestas de pinheiros exuberantes, hoje avistam-se pomares de abacate que alimentam grande parte da pressão do consumo internacional.
Consequências: uma desflorestação sem precedentes e um ar com menos oxigénio – porque com menos árvores – e mais poluído devido à utilização de químicos e pesticidas nas plantações de abacate.
O estado de Michoacan, considerado a capital do abacate, é o mais afetado e os especialistas relacionam a plantação desproporcionada do fruto com alguns problemas de saúde das populações da região.
Liliana Carmona tem 36 anos, é mãe de duas crianças e trabalha numa mercearia em Jujucato, uma aldeia no coração da terra do abacate. À Agência France Presse, reporta que “os espirros não passam” aos miúdos. O professor da aldeia, Salvador Sales, nos 15 anos a ensinar em Jujucato nunca tinha visto os alunos com tantos problemas respiratórios e de estômago. “Acreditamos que são causados pelos produtos usados nos pomares de abacate”, diz, sem dúvidas sobre os fumos químicos prejudiciais à saúde que o vento ajuda a espalhar.
Os especialistas acreditam que os químicos agrícolas estão a contaminar os solos e os lençóis de água, pondo em risco a qualidade da água dos lagos e da rede de distribuição, constituindo um risco para a saúde pública.
Para Alberto Gomez Tagle, um especialista ambiental, as populações de Jujucato e Lake Zirahuen que dependem da água do rio podem já estar a sofrer os efeitos dos químicos. Hoje proliferam, naquelas zonas, problemas hepáticos e renais que não eram comuns antes de “se expandirem os pomares de abacate e serem usados todos os tipos de pesticidas”, assinala Alberto Gomez Tagle.
A procura do abacate é global, mas o Japão e os Estados Unidos são os principais destinos da exportação. Por cá, a plantação portuguesa (encontrada sobretudo no Algarve e na Madeira) tem pouca expressão e consumimos mais abacate do México, de Espanha, do Peru e da África do Sul. Para os amantes da fruta e amigos do ambiente, fica uma informação útil: está a ser criado um selo que certifica que o fruto não foi plantado num pomar que compromete o meio ambiente.
Os números:
– 40 % da plantação mundial de abacate é mexicana (a maioria oriunda de Jujucato e Lake Zirahuen)
– Cerca de 137 mil hectares de terra são ocupados com pomares de abacate no estado de Michoacan
– Ali proliferam os terrenos com plantações ilegais de abacate (só desde agosto, as autoridades já recuperaram mais de 100 hectares)
– O fenómeno da deflorestação aumenta 2,5 pontos percentuais ao ano só com a pressão do cultivo do abacate
– Em 2003 as exportações do México atingiram quase 56 milhões de euros. Em 2015, chegaram aos 1,7 mil milhões de euros
– No México, cada hectare de abacate gera um lucro de quase 5.000 euros por ano