Simone de Beauvoir deve estar a dar voltas no túmulo. No Brasil, fundadas por uma piscopedagoga (Nathalia de Mesquita), existem quatro Escolas de Princesas: três em Minas Gerais e acaba de abrir uma nova em São Paulo. O conceito, todo em tons cor-de-rosa, consiste em ensinar, segundo explicou a empresária ao Estadão ” os valores de uma princesa”. Não se trata de ensinar valores humanitários, línguas, noções de solidariedade e cidadania. Não, nada disso. O que as “professoras” (cabeleireiras, cozinheiras, nutricionistas e psicólogas) ensinam a estas candidatas a princesas é a pentearem-se convenientemente e maquilharem-se, a fazerem a lida da casa, a pôr a mesa, fazer a cama sem vincos, ou a comprar a flor certa para a ocasião certa. Para que um dia organizem as suas casas, “facilitando a vida da ajudante doméstica ” e, claro, agradar aos maridos.
As escolas de Princesas têm gerado muita polémica no Brasil por relegarem meninas para papéis secundários, cosméticos e decorativos. Em vez de as prepararem para coisas úteis e que estimulem o desenvolvimento intelectual, empurram-nas para a futilidade mais retrógoda e sexista.
Em instalações em que predomina, insistentemente, o tom rosa, as meninas, com fardas da mesma cor e tiara ou laçarote no cabelo, cumprem todos os estereótipos que gerações de mulheres se esforçaram por combater. As professoras ajudam as meninas a organizar chás e ensinam-lhes onde colocar o guardanapo (também cor-de-rosa) e como devem posicionar os dedos ao segurar a chávena.
Numa estética influenciada pelas princesas da Disney, o lema da escola é ” O sonho de toda a menina é tornar-se uma princesa” e a diretora contesta as críticas que lhe fazem ao atribuír as tarefas domésticas apenas a raparigas – sim, não há meninos que queiram tornar-se príncipes. Ela quer, garante, com estes cursos de princesa, formar “grandes mulheres”, “mulheres completas”, que não desesperem quando estão de saída para uma festa e o botão cair: “Em dois minutos elas resolvem a situação e sabem pregar o botão”. E, ainda ao Estadão, afirma, “elas vão ter uma cabeça e pensar ‘ Eu sei lidar com qualquer situação. A nossa expetativa é que elas sejam grandes empresárias, quem sabe não se tornam presidentas do Brasil?”. Desde que não seja igual à Dilma, acrescenta.
Uma das mães das alunas acredita nos movimentos de direitos iguais para as mulheres, aceita que a filha vá ter uma carreira, mas em paralelo, afirma, quer que ela seja boa esposa, boa mãe, saiba as regras de etiqueta, escolher a roupa de cama e a comida para a família.
Todos os estereótipos, os vestidos, as festas, o cor-de-rosa estão presentes na escola, mas a diretora sustenta que há coisas que são ” de mulher”. Como ” a rosa, a doçura, a delicadeza”. Também ensinam às meninas os perigos da gravidez precoce e das doenças sexualmente transmissíveis e que os rapazes nao gostam de meninas demasiado oferecidas…