Uma ilha montanhosa, duas pessoas que nunca se tinham encontrado antes e um banco. Foi por aqui que começaram os holandeses Marieke van der Velden e Philip Brink. Ou melhor, que avançaram, porque a ideia, essa, tinha nascido em maio. A fotógrafa e o diretor de Arte queriam ver o que aconteceria se pusessem refugiados sírios que chegavam aos milhares a Lesbos, a caminho da Europa, frente a frente com turistas europeus que ali estavam a passar férias em agosto.
Apostaram que as conversas improváveis teriam finais surpreendentes e não se enganaram. Todas – e são doze – nos fazem sorrir, estranhar e emocionar. Tanto sorrimos com a candura do gerente de restaurante sírio Mohamad, como estranhamos as confidências da professora holandesa Seet ou nos emocionamos ao ouvir o carpinteiro Ghanem dizer que há cinco anos “era um rei” na Síria.
O documentário começa com um banco, à sombra de uns pinheiros. Ghanem e o consultor financeiro alemão Tilmann aproximam-se, sentam-se, cumprimentam-se e apresentam-se. Quando Tilmann explica que só chegou a Lesbos para passar duas semanas e que dentro de três dias regressa à Alemanha, Ghanem põe os dois a rir em conjunto, ao dizer: “Espero que nos encontremos lá”.
As conversas duram uns dois minutos, no máximo. Parece pouco, mas chegam para os turistas ficarem a conhecer as razões que trouxeram os refugiados até ali, o que deixaram para trás e o que esperam encontrar mais à frente. E para os refugiados terem uma ideia dos europeus que vão conhecer no futuro próximo.
Noutra zona da ilha, vemos Selma, uma estudante de Medicina alemã, de 24 anos, e Husan, um advogado sírio, de 26, trocar perguntas com delicadeza. Ficamos com a impressão de que dali poderia nascer uma amizade, e não nos enganamos muito. E, nuns baloiços, vemos dois rapazinhos, o sírio Alaa, de 11 anos, e o inglês Finn, de 9, sempre a darem balanço enquanto concordam que o jogador de futebol português Cristiano Ronaldo “é bom”.
Os turistas estavam no seu hotel ou na praia, e os refugiados esperavam há horas por transporte para saírem da ilha. Marieke e Philip explicaram-lhes o projeto e deram-lhes cartões com algumas perguntas, mas muitas delas foram surgindo naturalmente, no decorrer das conversas. Cada um ia falando em inglês, holandês ou árabe, e sempre que necessário tinham a ajuda da tradução simultânea, feita pela libanesa Reem Saouma (todos usaram auriculares).
The Island of All Together (a ilha de todos juntos, à letra) tem 23 minutos, preenchidos pelas doze conversas e por imagens de duas realidades tão diferentes, a dos refugiados e a dos turistas. A uma lancha a puxar uma banana insuflável segue-se um barco a abarrotar de gente, acabada de chegar da costa turca. Depois de três homens de joelhos, a rezarem no meio de um monte, vemos uma piscina rodeada de espreguiçadeiras.
Este não é o primeiro projeto do género do casal holandês. Os dois já estiveram no Afeganistão, onde quiseram saber quais eram os locais favoritos dos moradores de Cabul (Uma Segunda-Feira em Cabul), e também no Líbano, onde fizeram perguntas aos refugiados sírios, em nome dos amigos que os dois têm no Facebook. A equipa é sempre diminuta. Em Lesbos, além da tradutora, trabalharam com o técnico de som Bob Aronds.
No site theislandofalltogether há fotografias das duplas improváveis, acompanhadas de umas fichas que resumem a vida de cada um dos protagonistas do documentário. Lemos ainda que, depois de uma longa viagem pela Europa, todos os refugiados chegaram sãos e salvos à Áustria e à Alemanha.
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