Ler a mente é, talvez, a aplicação mais futurista das técnicas da neuroimagem que estão, agora mesmo, em rápido desenvolvimento. Porém, existe outra aplicação que pode ser mais útil a curto prazo: a previsão do comportamento. Os neurocientistas já estão em condições de utilizar uma série características da funcionalidade cerebral (neuromarcadores) para vaticinar o rendimento educativo de uma criança ou adulto, as suas aptidões de aprendizagem e seus desempenhos. Também as tendências aditivas ou de criminalidade, hábitos pouco saudáveis e a sua resposta aos tratamentos psicológicos e farmacológicos podem ser previstos por esta técnica. O objetivo dos cientistas é personalizar as práticas pedagógicas e clínicas para torná-las mais eficazes para as pessoas.
“Durante mais de um século”, escrevem o neurocientista John Gabriel e o seus colegas do MIT (Massachusetts Institute of Technology, em Boston) no Neuron, “compreender o cérebro humano dependeu dos danos neurológicos ocorridos de maneira natural, ou das consequências imprevistas da neurocirurgia.” No entanto, esta área das funções mentais sofreu um enorme desenvolvimento com as técnicas não invasivas da neuroimagem que permitiu realizar importantes descobertas, através de várias experiências, nas áreas da perceção, do conhecimento, do pensamento moral, do comportamento social ou das decisões financeiras.
O que propõem Gabrieli e os seus colegas do MIT é utilizar este desenvolvimento tecnológico capaz de medir a neurodiversidade humana para prever o comportamento futuro das pessoas. “Esta previsão”, afirma Gabrieli, “pode representar uma contribuição humanitária e pragmática para a sociedade, mas vai necessitar de uma ciência rigorosa e uma série de considerações legais.”
Por exemplo, um simples capacete de elétrodos, nada invasivo, aplicado às 36 horas do nascimento do bebé para determinar a sua resposta cerebral aos sons da fala pode prever com 81% de probabilidade de acerto a possibilidade de a criança desenvolver dislexia aos oito anos. Isto permite aplicar programas especiais de educação a essas crianças nos primeiros oito anos de vida. Estratégias similares poderão, também, ser aplicadas à aprendizagem das matemáticas ou música.
Outro exemplo importante é a previsão de comportamentos criminosos. “O sistema judicial”, explica Gabrieli, “já está cheio de solicitações (por parte de juízes, fiscais ou advogados) de previsão de comportamento do julgado, que são utilizadas para decidir que fiança aplicar, que sentença ou que regime de liberdade condicional.”
Um dos principais desafios em torno das técnicas neurocientíficas é o de encontrar formas legais para garantir que toda esta informação ajude os cidadãos mas evite que empresas ou instituições a utilizem para selecionar candidatos com mais probabilidades de êxito.