Mesmo que ocorresse agora uma mudança gigantesca, a pirâmide demográfica atual demoraria 20 anos a chegar a níveis mais equilibrados”, assegura Maria Filomena Mendes, presidente da Associação Portuguesa de Demografia. Os dados mais recentes para Portugal indicam que 2012 poderá entrar na história como o ano em que nasceram menos bebés, desde que existem registos – só no primeiro semestre nasceram menos 4 mil crianças que no ano passado. O índice de 1,37 registado em 2010, o pior valor da Europa, muito abaixo dos 2,1 filhos por mulher, necessários para a renovação de gerações, já só foi conseguido graças aos jovens imigrantes que aqui tinham chegado, nos últimos anos. Contudo, com a crise económica, os trabalhadores estrangeiros estão a abandonar Portugal, ameaçando fazer descer ainda mais o índice de fecundidade. Por outro lado, prossegue Maria Filomena Mendes, “assistimos à saída, para outros países, de muitos portugueses, em idade de casar e ter filhos. Será inevitável um aumento do envelhecimento e a diminuição da população ativa”. José Ribeiro, economista e diretor da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho, recorda que, em 2000, o número de jovens, em Portugal, foi superado pelo número de idosos. Em 30 anos, a percentagem de pessoas com mais de 65 anos passou de 11% para 17,5% e, mantendo-se esta tendência, as previsões do Instituto Nacional de Estatística apontam para que, em 2050, cerca de 80% da população portuguesa estará envelhecida e dependente.
Pirâmide Invertida
Com estes indicadores, que, à partida, deveriam ser motivo de regozijo, como o aumento da esperança média de vida, a inversão desequilibrada da pirâmide social – assente em muitos idosos e poucos jovens – terá um forte impacto “quer a nível da sustentabilidade da Segurança Social, quer no equilíbrio da despesa pública, com o acréscimo de encargos com os idosos”, diz José Ribeiro. Os efeitos serão visíveis ainda na adoção de novos modelos de vida e consumo, na produtividade ou no tipo de equipamentos sociais que se tornarão necessários.
Como sair desta crise?
O economista não conhece soluções milagrosas, apenas tem uma certeza: “Não se pode ambicionar ter uma economia mais competitiva, apostando em produtos e serviços mais sofisticados, ao mesmo tempo que se desinveste na educação e na ciência e se aponta o caminho da emigração aos ativos mais jovens e mais qualificados.”