Ao fim de nove dias na corrida para Belém, André Ventura terá descoberto que, se não anda a ser alvo de “espionagem ou coação” do BE, pelo menos está a ser vítima de “perseguição”.
Uma das alegadas provas que apresentou é a foto de uma carrinha de dimensões talvez demasiado notórias para passar despercebida durante tantos dias, propriedade do Bloco. “Andou atrás de nós em vários eventos, na Guarda…”, assegurou, ao final desta terça-feira, em Coimbra, cidade onde foi recebido com a maior concentração de ativistas antifascistas com que já se deparou desde o dia 10.
A par disso, o candidato presidencial ainda afirmou que quem comandou a manifestação de cidadãos ciganos em Serpa, junto ao espaço para o comício cedido pela Câmara liderada pelo PCP, foi um assessor do grupo parlamentar bloquista, Alberto Matos. O evento decorreu no dia 10 de janeiro, no arranque da campanha, que ficou marcado por, no palco, ter surgido um esqueleto atrás do candidato, quando o pano de cena foi aberto.
“Desde o início que tínhamos suspeitas em relação a manifestações que tinham sido organizadas e à forma como tinham sido organizadas. Vamos expor este caso à Comissão Nacional de Eleições e também à PSP”, assegurou Ventura, que demonstrou ter informação privilegiada, ao garantir não só que foi Alberto Matos quem pediu autorização à Câmara de Serpa para realizar a ação de protesto, como a sinalizar que “a matrícula” da carrinha prova que pertence ao BE. Ora, só profissionais da PSP, GNR ou PJ podem aceder à base de registos dos proprietários dos veículos rodoviários – acesso que deixa, aliás, pegada digital.
“No caso da manifestação de Serpa, temos a informação de que quem pediu [autorização à Câmara Municipal] e organizou a manifestação se chama Alberto Manuel da Cunha Matos. Este senhor foi nomeado funcionário do grupo parlamentar do Bloco de Esquerda, em novembro de 2019. A Câmara Municipal de Serpa de certeza que vai confirmar esta informação e este pedido de manifestação”, disse, acenando depois com a foto da tal carrinha. “Isto foi à porta de um hotel em Viseu, onde estávamos. E já esteve noutros eventos nossos e conseguimos detetá-la. E tanto quanto conseguimos apurar, esta carrinha está em nome do BE”, alegou.
Mas essa carrinha fez alguma coisa? À questão colocada pelos jornalistas, Ventura foi lacónico: “Pois não sei, andou atrás de nós em vários eventos. Vamos passar à PSP, para ver se trata de um caso de espionagem ou coação”. “Se encontra o mesmo veículo nos sítios onde você chega e sai, acho que estamos pelo menos perante um caso de perseguição”, acrescentou, frisando ” que o BE estaria a promover estas iniciativas”.
Carrinha acompanha Marisa
À VISÃO, o Bloco assegurou que “não organizou qualquer manifestação”. “Tanto quanto sabemos foram organizadas por organizações e pessoas que combatem o racismo”.
A verdade é que basta procurar o nome de Alberto Matos na Internet e facilmente se perceberá, dadas as inúmeras notícias de órgãos de comunicação social alentejanos sobre as lutas do ativista em prol dos migrantes que trabalham nos campos da região, que o mais difícil em Serpa seria não se conseguir identificar logo o dirigente antifascista .
Já sobre a carrinha, os bloquistas asseguram que a tese do líder do Chega esbarra com o facto de os jornalistas que acompanham Marisa Matias já a conhecerem, porque tem andado inserida na caravana da candidata. “É usada pela equipa da campanha presidencial da Marisa Matias e tem acompanhado as ações da candidata, como qualquer jornalista pode confirmar. Esteve no comício virtual de São João da Madeira, no dia 15. E seguiu nessa mesma noite para Viseu, para preparar a iniciativa que Marisa Matias realizou nesta cidade no dia seguinte”, explicaram.
“Percebemos que o candidato da extrema-direita esteja com medo da solidariedade de um país que se levantou contra quem insulta mulheres. Mas estas acusações, além de mentirosas, são absurdas”, concluem.