O debate de cerca de 30 minutos, entre a ex-eurodeputada do PS e a atual do BE, ainda começou, na noite desta segunda-feira. por aparentar que seriam mais os pontos em comum entre as duas candidatas a Belém do que as diferenças. Na SIC, ambas optaram por não pedir a cabeça da ministra da Justiça, face à polémica do procurador europeu, e até chegaram a admitir conversas anteriores aos anúncios das candidaturas sobre possíveis convergências.
Depois, Ana Gomes acelerou na estratégia que trazia bem estudada: fragilizar Marisa Matias com as posições assumidas pelo Bloco quer no Parlamento, principalmente na votação contra o Orçamento do Estado, como em Bruxelas, contra as políticas na área da defesa – com a criação de tropas comuns – e da moeda comum. “Não é por mim que não haverá convergência à Esquerda”, atirou a socialista. A bloquista retorquiu, recusando usar o debate para discutir aqueles temas que não eram “para aqui”, e lembrando que o seu “adversário é Marcelo Rebelo de Sousa” e a necessidade de uma mobilização contra André Ventura.
As frases que marcaram o debate:
Demissão da ministra da Justiça
ANA GOMES
“O primeiro-ministro é que sabe e avalia como é que isto sobra para o Governo. Sou contra a banalização de pedidos de demissão de ministros”
Contexto: Ana Gomes adotou a mesma postura que tem tido nas últimas semanas, em relação aos ministros da Administração Interna e da Saúde, visados por críticas de Marcelo Rebelo de Sousa devido a polémicas com as suas tutelas.
“Considero este caso grave, como já o disse em setembro. Eu, que votei a aprovação do procurador europeu, acho que não é boa política órgãos nacionais sobreporem-se à seleção feita por um comité internacional para um órgão internacional”.
Contexto: A ex-eurodeputada manifestou-se em Bruxelas para que na escolha destes procuradores valesse a decisão das instituições europeias e que os países de origem dos candidatos apenas a validassem
MARISA MATIAS
“Há imensas contradições. A ministra disponibilizou-se para prestar declarações. É naturalmente uma situação vergonhosa. Esta situação não a fortalece [à ministra} mas precisamos ouvir o que tem a dizer sobre o assunto [no Parlamento]”.
Contexto: A bloquista assumiu a posição que a Esquerda parlamentar tem tido perante esta polémica, que se tem dado por satisfeita com a ida de Francisca Van Dunem ao Parlamento.
Convergência de candidaturas
MARISA MATIAS
“Ana Gomes é também uma adversária mas do mesmo campo político. Fomos companheiras [no Parlamento Europeu], somos muito amigas. Mas há cinco anos fui candidata e não me apoiou. Temos linhas de atuação diferente” .
Contexto: Marisa entrou na corrida presidencial a 10 de setembro de 2020, dois dias depois de Ana Gomes fazer o mesmo, e afastou logo o cenário de uma desistência a favor da socialista. “O meu adversário direto é Marcelo Rebelo de Sousa”, fez questão de frisar neste debate.
ANA GOMES
“A candidatura de Mariza insere-se numa lógica de um partido. A minha candidatura é independente, não tenho o apoio do meu partido”.
“Antes do dia a seguir às eleições, ainda há o dia antes das eleições. Não é por mim que não haverá convergência à Esquerda.”
Contexto: A socialista apostou em colar Marisa Matias ao BE a partir daqui, ainda que tenha assumido ter conversado com a bloquista antes de ter avançado com a sua candidatura a 8 de setembro. “Falámos numa primeiríssima fase”, disse, deixando claro que por si poderá haverá uma caminhada comum na reta final.
Crise política
ANA GOMES
“Não entendo como é que o Bloco de Esquerda votou contra o Orçamento do Estado e como a Marisa disse num debate que não vetaria este Orçamento. Há aqui uma contradição”.
Contexto: Ana Gomes mostrou incongruência na postura da bloquista sobre o voto contra do BE no Orçamento para 2021, já que terá dito que não vetaria o documento se estivesse em Belém.
MARISA MATIAS
“Não há nenhuma contradição entre dizer que isto não é suficiente [o OE], e dizer que, não sendo inconstitucional, não vetaria”.
“Não sei se a Ana Gomes, deputada na Assembleia da República, como votaria a proposta de rever as leis laborais, provavelmente votaria a favor. Também não sei como votaria, mas talvez favoravelmente, a auditoria ao Novo Banco”
Contexto: A bloquista dirimiu os seus argumentos, levando Ana Gomes a ter de concordar consigo e a acenar positivamente com a cabeça perante as questões de Marisa Matias, que fez por diferenciar o que é estar numa bancada parlamentar e ocupar o cargo de chefe de Estado. Para isso, usou bandeiras pelas quais Ana Gomes se bate, como é o caso de uma auditoria à gestão do Novo Banco.
Extrema Direita e Chega
ANA GOMES
” Marcelo Rebelo de Sousa deu a bênção a um acordo nos Açores que normaliza esse partido. Normalizar isto é muito perigoso. É uma ameaça“.
“A Ana Gomes assume e assumiu que se for presidente da República pedirá à PGR, que tem uma delegação junto do Tribunal Constitucional, que considere a situação deste partido, não só à luz do seu programa, como a prática reiterada de apelo ao ódio e à divisão dos portugueses”.
Contexto: Ana Gomes voltou a insistir na intenção de confrontar o Ministério Público com a necessidade de serem verificadas as condições de legalização do partido de André Ventura, assim como na quota parte da responsabilidade de Belém em ter validado o Governo do PSD nos Açores, com apoio do Chega.
MARISA MATIAS
“O cordão sanitário tem a ver com o exercício do poder, tem a ver com se aceitamos ou não – e eu não aceito – que haja um Governo que possa ter um ministro desse ministro decida que os direitos das pessoas sejam de acordo com a sua cor de pele”.
“Normalizar [o Chega] é colocar no Governo, é o que se fez nos Açores”.
Contexto: A bloquista, tal como a Esquerda parlamentar, fez questão de apontar baterias à solução governativa encontrada pelo social-democrata José Manuel Bolieiro nos Açores, para retirar o poder ao socialista Vasco Cordeiro, que apesar de ter ganho as eleições não reuniu uma maioria parlamentar.