Companheiros habituais noutras corridas eleitorais, PSD e CDS encontraram-se, esta sexta-feira, na TVI, em campos opostos. Pelo menos, formalmente, pois, em vários momentos do debate, Rui Rio “desmontou” com simplicidade as esforçadas tentativas de marcar posição de Francisco Rodrigues dos Santos – não indo à luta e optando, antes, por trocar o contraditório por uma boa gargalhada.
Foi, aliás, esse o registo deste frente a frente. Equilibrado, tranquilo, cordial, o debate revelou um Rui Rio seguro do caminho que escolheu e um Francisco Rodrigues dos Santos sedento de, no formato de 25 minutos, espremer ao máximo cada intervenção para mostrar aos portugueses ao que vem – preocupando-se, não só, com o eleitorado à direita, mas disparando críticas, sempre que lhe era possível, para o outro lado da barricada (leia-se, a esquerda).
Foi precisamente a falta de acordo pré-eleitoral entre PSD e CDS que serviu para dar o pontapé de saída do debate. Rodrigues dos Santos acusou Rio de “não ter aprendido” com o passado, dando como exemplos o insucesso das Legislativas de 2019 e o sucesso das Autárquicas de 2021, onde os partidos venceram coligados em capitais de distrito como Lisboa, Coimbra ou Portalegre. Rio justificou o desacordo com questões político-ideológicos: e insistiu na ideia de que o PSD é “do centro”, resistindo sempre ao “canto da sereia” da direita “clássica”.
Juntos na economia, mas (um pouco) separados nos costumes, os líderes de PSD e CDS procuraram assumir-se como o voto útil à direita, mais convincente, é verdade, na boca de Rui Rio – naturalidade garantida com o “peso” eleitoral que, atualmente, as sondagens atribuem ao CDS.
Nenhum dos dois, porém, fechou a porta a (naturais) entendimentos após as eleições de 30 de janeiro. E, no final, pareceu ser muito mais aquilo que os une do que aquilo que os separa. Rio até concluiu o frente a frente a ceder o CDS como sua “segunda equipa”. “Se não quiserem votar no PSD, podem votar no CDS”, chegou a dizer.
Centro vs direita
Francisco Rodrigues dos Santos assumiu as despesas do “combate” político, mas Rui Rio foi sempre fugindo pelo ringue. No final, o acordo pré-eleitoral foi explicado pela posição de cada partido. E cada um dos líderes transmitiu eficazmente o posicionamento com que hoje enfrentam as Legislativas. Rio apresenta-se com os pés nas duas margens; Chicão diz ser “o verdadeiro representante da direita” e acusa Rio de abrir a porta a acordos com o PS de António Costa.
RUI RIO
“Não é um debate entre dois partidos de direita. É entre um partido de direita [CDS] e um partido do centro [PSD], penso que o Francisco concorda com isto”.
“Uma coligação entre PSD e CDS-PP é muito mais a exceção do que a regra”.
“[Escolher o PSD] É votar mais ao centro e menos à direita”.
“Não há incoerência [com acordos com CDS nas Autárquicas e desacordos nas Legislativas]. Fazemos a distinção entre acordos autárquicos e de governação”.
FRANCISCO RODRIGUES DOS SANTOS
“O CDS anuiu sentar-se à mesa com o PSD para avaliar um acordo [pré-eleitoral], mas o CDS não está em saldos”.
“Nos sucessos autárquicos em Lisboa, Coimbra e Portalegre o CDS foi importantíssimo. Convinha que Rui Rio tivesse aprendido alguma coisa com as eleições [Legislativas] anteriores”.
“O voto no CDS continua a ser um voto de alternativa à direita que consiga derrota o PS e a extrema-esquerda. O CDS é o único partido que garante que um voto no PSD não vai parar ao bolso de António Costa”.
“”O CDS é o voto útil à direita”. O antídoto para um bloco Central”.
“Quem quer ser centro acaba por ser tudo e o seu contrário, e não chega a ser nada. Querendo estar mais perto de Sá Carneiro, [Rui Rio] preferiu estar mais perto de Rui Rio”.
“Esta é uma oportunidade de o CDS se afirmar como a verdadeira alternativa da direita clássica”.
Porta(s) aberta(s) à direita (e à esquerda?)
Apesar da decisão de Rui Rio em avançar sozinho nas Legislativas, o líder do PSD sempre foi dizendo que o CDS é o seu “parceiro natural”. E abriu a porta a um acordo pós-eleitoral se, para isso, for necessário para formar Governo. Francisco Rodrigues dos Santos não deixou cair essa possibilidade, mas criticou uma aproximação de Rio à esquerda, voltando a acusar o social-democrata de estar a preparar “um arranjinho com o PS” para depois de 30 de janeiro.
RUI RIO
“Se não tivermos maioria, aquele partido com que é mais fácil de nos entendermos é com o CDS, até pelo histórico dos dois partidos, nem é por mim, e eu também não tenho problemas nenhuns em me entender com o Francisco Rodrigues dos Santos”.
“Se ganhar as eleições, e não tiver maioria absoluta, o primeiro partido com que me quero entender é o CDS. O segundo é o Iniciativa Liberal, não é o PS”.
“Se eu ganhar as eleições, os outros têm de estar disponíveis para contribuir para a estabilidade e, se eu perder, tenho de estar disponível para o mesmo.
“Temos de aprender a negociar. Na Alemanha, passaram dois meses a negociar um novo Governo”.
FRANCISCO RODRIGUES DOS SANTOS
“O Rui Rio já admitiu viabilizar um acordo com o PS e viabilizar um Governo de António Costa. E isso, connosco, nunca acontecerá. Nós queremos mesmo tirar António Costa do poder.
“Rui Rio é muito próximo do PS. Já admitiu que se Sá Carneiro não tivesse fundado o PSD estaria no PS. Eu, se Adelino Amaro da Costa não tivesse fundado o CDS, eu não seria de um partido de esquerda”.
“[Rui Rio] Não afasta arranjinhos com o PS”.
Juntos na economia mas… separados nos costumes
Rui Rio e Francisco Rodrigues dos Santos convergiram nas críticas à política económica do Governo PS. Em destaque: a TAP, que Rio considerou “uma vergonha”. “No Governo PSD e CDS privatizaram e bem. Costa reverteu mal”, disse Rio, que afirmou ainda que a companhia aérea nacional “vai levar mais três mil milhões de euros, [o que dá] “dá 300 euros a cada português.” Nos costumes, porém, assistiu-se ao momento mais “quente” do debate. As gargalhadas do líder do PSD não cessaram, mas foram evidentes as diferenças de posições entre os candidatos, por exemplo, quanto à questão da eutanásia.
RUI RIO
“Nesta questão [da eutanásia] há uma diferença gigantesca entre nós. O PSD é contra a eutanásia, mas a diferença é que dá liberdade aos seus membros para votarem com liberdade”.
“Em questões de consciência sempre foi assim no PSD e comigo também vai ser. O cúmulo da liberdade é que até eu, o próprio líder do partido, vota ao contrário da maioria. E não deixarei de o fazer”.
FRANCISCO RODRIGUES DOS SANTOS
“O CDS é frontalmente contra a eutanásia. Não negoceia o valor da vida”.
“Rui Rio dá liberdade aos deputados mas não ao povo português [por Rio ter votado contra o referendo à eutanásia]. Sente-se bem por votar contra o que os seus eleitores esperam? Os portugueses votam em programas políticos e isto é uma matéria de lei”.
“O Estado não tem direito a doutrinar as crianças com ideologia de género. Foi com muita pena que observei o silêncio de Rio em relação ao caso da família Mesquita Guimarães [os irmãos que chumbaram por terem faltado às aulas da disciplina de Cidadania e Desenvolvimento]. Com o CDS essa disciplina será opcional”.