As contas destas Autárquicas: O que é ganhar e perder

As contas destas Autárquicas: O que é ganhar e perder

Pelo menos, um dos partidos que apresentam candidatos às eleições autárquicas já garantiu que, na noite eleitoral de 12 de outubro, comemorará uma vitória. André Ventura anunciou que o Chega “vai ganhar”, recuperando uma antiga tradição do PCP que, nos tempos áureos de Álvaro Cunhal, “nunca perdia”. Efetivamente, depois de, há quatro anos, o Chega ter tido resultados animadores, mas insuficientes – não elegeu um único presidente de câmara –, este ano, a história deverá contar-se de outra maneira. Pelo menos no Algarve, no Baixo Alentejo e, talvez, numa ou noutra autarquia da península de Setúbal, o Chega tem francas hipóteses de ganhar alguma coisa: no Algarve, por exemplo, Olhão e Albufeira estão quase a cair. De Olhão, aliás, transita um autarca histórico do PS, António Miguel Pina, que atingiu o tempo limite de mandatos, mas que agora se apresenta em Faro. Na capital algarvia, em sondagens recentes, PS e a coligação de centro-direita, liderada por Cristóvão Norte (PSD), está em situação de empate técnico. Mas aqui, nem mesmo a aposta do Chega no seu líder parlamentar, Pedro Pinto, que foi cabeça de lista pelo distrito e é um dos rostos mais conhecidos do partido, mas não é algarvio, resulta lá muito bem: está em terceiro, sim, mas a uma considerável distância dos favoritos.

“The winner takes it all…” Luís Montenegro fez uma forte aposta pessoal a norte e Pedro Duarte, no Porto, é um dos trunfos com que conta. Mas Manuel Pizarro, do PS, tem feito uma campanha forte. Tudo em aberto

Ainda que o Chega apenas ganhasse uma câmara, cantaria vitória – e ela será estrondosa se for uma grande câmara. Com perto de meio milhão de habitantes, Sintra, o segundo concelho mais populoso do País, está nessas condições. Rita Matias, aposta do Chega, está taco a taco com os candidatos Ana Mendes Godinho, PS, antiga ministra do Trabalho e da Segurança Social, e Marco Almeida, um histórico do PSD na câmara e no concelho, que se candidata mais uma vez, a pensar que é agora ou nunca. Sintra é uma das câmaras onde o incumbente (Basílio Horta) já não pode candidatar-se.

Há vitória e vitórias

Dos 89 autarcas atingidos pela limitação de mandatos, 49 são do PS e 24 do PSD. Proporcionalmente, a situação é mais aflitiva para a CDU, com uma dúzia de casos em 19. E para o CDS, com três casos em seis, ou seja, metade dos seus presidentes de câmara têm de ser substituídos. São câmaras de maior “risco” de mudança e, nessas condições, estão algumas das principais e mais emblemáticas: Porto, Braga, Sintra, Faro, Aveiro.

Para PS e PSD, ganhar é ter mais votos e mais mandatos. Os socialistas têm de manter a presidência da Associação de Municípios (correspondente a maior número de câmaras ganhas) como única forma de estancar a hemorragia eleitoral de 18 de maio e reafirmar o PS como um grande partido de implantação nacional. PS e PSD têm a vantagem de estar bem sedimentados no ecossistema político e social do poder local, mas o arrivismo do Chega, que começou já a “roubar” autarcas a outros partidos, em especial, ao PSD, mas não só, é um fator de imprevisibilidade.

Só que as contas não são assim tão simples. Em 2021, Rui Rio perdeu as eleições, mas cantou vitória, por ter recuperado algumas das câmaras mais importantes, a começar por Lisboa. Ganhar Lisboa ou o Porto ou, sobretudo, ambas, é o suficiente para que qualquer dos dois grandes partidos possa reclamar vitória, independentemente do número de votos ou de câmaras. Coimbra, muito simbólica, também está em risco de cair para o PS, que apostou em Ana Abrunhosa para desafiar o incumbente José Manuel Silva, eleito pelo PSD.

Luís Montenegro tem feito, entretanto, em campanha, um esforço grande para recuperar a hegemonia na Área Metropolitana do Porto e é na Invicta que vai aguardar, a 12 de outubro, os resultados eleitorais. Pedro Duarte (PSD) e Manuel Pizarro (PS), dois ex-ministros, são dois pesos-pesados. Quem ganhar dará ao respetivo partido uma razão para reivindicar vitória de âmbito nacional.

Os dramas da CDU

O caso de Setúbal é um dos grandes dramas da CDU. O incumbente, André Martins, oriundo de Os Verdes e que cumpriu o seu primeiro mandato, fez parte da equipa da presidente histórica, Maria das Dores Meira, que tinha atingido o limite de mandatos em 2021 e tentou, sem sucesso, transferir-se para Almada. Agora, “a Dores”, como é conhecida na cidade sadina, regressa e, supostamente melindrada por não ter voltado a ser escolhida pelos comunistas – que apostam na continuidade do discreto mas eficiente autarca atual –, apareceu como independente. Mas com o apoio… do PSD. Os sociais-democratas, através desta “barriga de aluguer”, podem cantar vitória numa cidade que nunca geriram. “A Dores” traz, aliás, para os cartazes da campanha a sugestiva frase “Setúbal de volta”.

E é um drama para a CDU: Setúbal é uma das duas únicas capitais de distrito que os comunistas ainda detêm – a outra é Évora. Mas Évora também é um problema: o atual autarca, Carlos Pinto de Sá, atingiu o limite de mandatos e transfere-se, agora, para Montemor-o-Novo. O PCP aposta forte, com o mediático João Oliveira, eurodeputado e ex-líder parlamentar e alentejano de gema. Mas enfrenta um adversário difícil, Carlos Zorrinho, do PS, ex-membro do governo, também antigo eurodeputado e governante. E até o candidato do PSD, Henrique Sim-Sim, tem hipóteses. No último Congresso do PCP, em Almada, em dezembro do ano passado, o secretário-geral, Paulo Raimundo, definiu as autárquicas como a aposta vital para a relevância do PCP, abrindo mesmo as listas a independentes e desafiando os militantes a “trazer gente”. Na primeira semana de campanha, andou pelos antigos bastiões, interpelando diretamente o Chega e André Ventura (que acusou, corretamente, de ter sido eleito para a Assembleia Municipal de Moura, em 2021, e de, praticamente, nunca lá ter posto os pés). Ganhar, para a CDU, seria manter as 19 câmaras. Mas se mantivesse as duas capitais de distrito, ainda podia cantar vitória, mesmo que o número de municípios geridos pelos comunistas se visse reduzido. O desafio é continuar a ser a terceira força autárquica nacional, algo que está ser disputado pelo Chega. Ou antes: a quarta, se considerarmos que os independentes já são… “a terceira força”.

A guerra dos irmãos

Aveiro é outra das capitais de distrito onde há muito suspense. Com a chegada ao fim dos mandatos do carismático Ribau Esteves, avançam os irmãos Souto. O Alberto, do PS, já foi presidente em Aveiro e o Luís, do PSD, quer agora ser ele. Nesta luta eleitoral fratricida, quem ganhará?

Braga é uma das cidades onde o incumbente (Ricardo Rio, PSD) tem de sair. Avançam o seu vice, João Rodrigues, que promete transportes gratuitos e uma “CREB” – circular externa de Braga – e António Braga, do PS, que, aos 72 anos, regressa, assim, à política ativa, depois de ter sido, há muitos anos, deputado e secretário de Estado das Comunidades. O PS propõe a constituição de uma área metropolitana de Braga. E o que é que baralha as contas? Não, desta vez, não é o Chega: é a IL, que apresenta, nada mais, nada menos do que o seu ex-líder, Rui Rocha. Isto pode dividir hostes à direita e beneficiar os socialistas.

Mas quem nunca? Um dos temas mais excitantes da campanha foi, precisamente em Lisboa, a candidatura autónoma de João Ferreira, pela CDU, que o PS acusa de “beneficiar” Carlos Moedas contra Alexandra Leitão. Ser terceira força, na capital, já seria uma meia vitória para os comunistas e o PS não se pode queixar: toda a gente sabe que eles, desde o Comintern, raramente alinham em frentes unitárias que não possam controlar…

Pontos sexy

Algumas das câmaras que apresentam motivos de interesse e curiosidade, para seguir durante a noite eleitoral

­— Moura
Em 2021, André Ventura foi eleito para a Assembleia Municipal e, nesta campanha, foi confrontado por Paulo Raimundo, por ter registado 30 faltas, nas sessões. Um concelho de crescimento do Chega que será curioso seguir.

­— Palmela
A antiga presidente “icónica” Teresa Vicente está de regresso, para tentar segurar um concelho comunista que votou Chega a 18 de maio. A campanha tem sido dura, com o desafiante cheguista Afonso Brandão a confrontar diretamente a CDU, que ganhou sempre.

­— Viseu
Fernando Ruas, o “dinossauro excelentíssimo”, beneficia de ter interrompido os mandatos para uma perninha em Bruxelas e, por isso, ainda não atingiu o limite de mandatos, na sua segunda vida em Viseu. Mas as contas parecem difíceis, desta vez… A seguir.

­— Oeiras
Isaltino Morais, outro dinossauro que beneficia de ter tido mandatos intermitentes, pode atingir os 37 anos no cargo. Foi o recordista dos donativos para a campanha, o que diz muito sobre a sua popularidade.

­— Leiria
A AD dividiu-se, com candidaturas separadas do PSD e do CDS. O autarca incumbente, Gonçalo Lopes (PS), é favorito. E há a curiosidade do ADN, com o excêntrico músico Nuno Barroso, filho do já desaparecido cantautor Pedro Barroso…

­— Amadora
Suzana Garcia, mediatizada pelo comentário televisivo na área da Justiça, vai tentar, de novo, pelo PSD. Desta vez, conseguiu levar para a campanha o próprio ex-líder Passos Coelho, que quis ir apoiá-la expressamente.

­— Loures
Depois de todas as polémicas relacionadas com temas de segurança e imigração, no concelho, e sobretudo depois do caso do Bairro do Talude, os eleitores têm a palavra para manter ou remover Ricardo Leão (PS). Neste quadro, será curioso ver que resultado obtém o Chega…

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