José Luís Carneiro andava pelo Tâmega na segunda-feira à tarde. No rescaldo da Comissão Nacional do PS que, em Penafiel, arrumou (pelo menos, formalmente e para já) os temas do resultado das autárquicas e da escolha do candidato presidencial, Carneiro procurava mudar de página. “Vamos levar à Assembleia da República a proposta para a criação de um Contrato Territorial de Desenvolvimento para a Região do Tâmega e Sousa, que apresenta dos piores indicadores de desenvolvimento, pese embora os seus recursos territoriais”, respondeu à VISÃO numa pausa nas jornadas parlamentares do partido desta segunda-feira, assumindo que vai tentar pôr essa ideia “na agenda”, sem querer alongar-se sobre a reação do partido à “abstenção exigente” no Orçamento do Estado, o efeito Ricardo Leão no posicionamento político dos socialistas e a evidente falta de entusiasmo de alguns setores do PS com a candidatura de António José Seguro. Para José Luís Carneiro, nada disso é tema.

Entre os carneiristas garante-se que “não houve uma única voz dissonante” em relação à votação no Orçamento, “nem sequer dentro do Grupo Parlamentar”, que Leão “é um produto do seu tempo e do contexto local” que não fará mexer a agulha do PS nacional e que o líder até deu “liberdade total” de voto nas presidenciais aos militantes para evitar fraturas, numa altura em que é evidente que Henrique Gouveia e Melo pesca votos e apoios de peso no partido. Mas se, no Largo do Rato, se olha para um copo meio cheio e sem ondas, há quem no PS veja as águas a agitarem-se. José Luís Carneiro é, para muitos, um líder a prazo para a travessia no deserto, que pode mesmo ficar “amarrado” ao resultado de António José Seguro, ainda que Carneiro esteja a fazer o possível para transformar a sua liderança numa longa maratona, resistindo ao desgaste.
