Rachhpal Singh estava a tomar um café na área de serviço de Aveiras, no sentido Lisboa/Porto, por volta das 18h do dia 5 de outubro. Estava em serviço e tinha estacionado o reboque da oficina em que trabalha lá fora, quando foi abordado por um individuo que lhe disse que não podia estar ali. A conversa foi subindo de tom à medida que o imigrante respondia que está cá a trabalhar, legal e a pagar impostos e o agressor lhe mostrou uma t-shirt com a data 1143 – o nome de um grupo neonazi – e o queria obrigar a beijar. Depois de o agredir, o homem saiu da cafetaria e foi aí que Rashpal se apercebeu de que tinha ficado sem o telefone e sem a carteira. Correu para o estacionamento para os recuperar e foi atacado por um grupo.
Carolina Furtado Freitas estava junto à cafetaria quando viu o que diz serem “cerca de 20 homens” em cima de Rashpal. Na verdade, quando viu a cena não conseguia sequer ver a vítima, tantos eram os agressores. “Estou cá fora e começo a sentir uma agitação. Olho e vejo uma pessoa a ser espancada no chão por mais de 20 homens, a dar pontapés e murros de forma ininterrupta e violenta. Tive logo a sensação que podia ser uma agressão racista pelo aspeto deles”, conta à VISÃO.
O aspeto que lhe chamou a atenção foi o facto de serem “muito musculados, com tatuagens e alguns deles com a cabeça rapada”. Antes que Carolina e o namorado se pudessem aproximar para perceber o que se tinha passado, um outro homem saiu de um Opel Corsa, com um bastão, para se juntar aos agressores.
A cena deu-se, segundo conta Carolina, no espaço que fica entre a área de restauração e o estacionamento onde ficam os autocarros de longo curso, em frente a umas casas de banho.
No momento em que Carolina e o namorado se aproximaram a avisar que iam chamar a GRN, apareceu também um carro com duas pessoas racializadas que chamaram “racistas” aos agressores. Apanhados, os agressores terão fugido para dois autocarros “de cor cinzenta azulada sem qualquer identificação”, enquanto o homem do Opel Corsa fugiu na sua viatura.
O imigrante estava com “um grande hematoma no lado esquerda da cabeça, provavelmente das biqueiradas que levou, estava a sangrar da boca, tinhas as roupas rasgadas e várias feridas em sangue nos cotovelos e nos joelhos”. A grande preocupação dele, segundo Carolina, era recuperar o telemóvel para avisar o patrão de que tinha o reboque ali estacionado, antes de ser levado para o hospital onde recebeu assistência médica.
GNR confirma agressões e roubo
Contactada pela VISÃO, fonte oficial da Direção Nacional da GRN confirma os factos relatados por Carolina Furtado Freitas, que começou por fazer a denúncia pública através de uma publicação no Instagram e que se prontificou junto das autoridades para ser testemunha no processo, tal como outro homem que terá assistido à cena ainda dentro da cafetaria.
“A ocorrência diz respeito a uma alegada situação de agressões e roubo, praticada por um grupo de cidadãos tendo, conforme declarações da vítima, um dos elementos do grupo envergado uma camisola com o número 1143. No decurso da ocorrência, foram subtraídos à vítima uma carteira e um telemóvel”, diz à VISÃO fonte oficial da GNR.
Os factos foram comunicados pela GNR ao Tribunal Judicial de Alenquer. A investigação deverá poder socorrer-se das câmaras de videovigilância para identificar os suspeitos.
Apesar disso, a GNR não revelou se já foi feita alguma detenção.