Quando Paulo Raimundo subiu pela primeira vez ao palco de uma Conferência Nacional como secretário-geral do PCP, talvez fosse preciso estar atento às entrelinhas do discurso para perceber o sinal dado a quem nas últimas décadas se tinha zangado com o partido. Mas o apelo estava lá quando Raimundo identificou como “tarefa dos comunistas” a ação “em unidade com trabalhadores das mais diversas opções e origens” e disse contar “com aqueles que se aproximam e com os que se reaproximam”. Quase dois anos depois de ter entrado em funções o secretário-geral que há anos tinha a tarefa de fazer a ligação do partido aos movimentos sociais (era Paulo Raimundo quem fazia o contacto com o “Que se Lixe a Troika”, por exemplo), há sinais de que os comunistas levaram a sério este trabalho, que já começou a dar frutos.
“Nós conversarmos com gente de diversos setores, até com gente de outros partidos, é uma coisa que com naturalidade se fez sempre no PCP. O que nós concluímos na Conferência é que nós estávamos, de certa forma, a antever o que é que vinha aí, e perante uma situação que se agravava do ponto de vista ideológico, do ponto de vista social, do ponto de vista económico, achámos que era preciso esse diálogo, esse juntar forças. Era uma tarefa que não podia ficar para segundo plano”, assume à VISÃO Paulo Raimundo, numa manhã de sábado em que foi até à Biblioteca de Marvila para um encontro aberto à população sobre habitação. A sala, que era pequena, encheu-se, muito com militantes e simpatizantes locais comunistas, mas também com membros de associações de moradores dos bairros sem qualquer ligação ao partido, que foram falar de elevadores avariados, das infiltrações nas casas e do preconceito com que têm de lidar por morar em bairros camarários.