Um candidato presidencial em coma que teve 14,3% dos votos. Um bombeiro que foi despedido por ultrapassar a caravana do primeiro-ministro quando conduzia um bebé de nove meses com dificuldades respiratórias. Uma atriz porno em São Bento. Um deputado que roubou gravadores a jornalistas porque não gostou da entrevista. O grau de insólito destas histórias pode levar quem não as conheça a pensar que se trata de invenções. Mas não são. Todas elas aconteceram e todas estiveram durante alguns anos numa pasta partilhada nos computadores dos jornalistas Liliana Valente e Filipe Santos Costa, com a sigla “WTF”, acrónimo para “what the fuck”, que significa tudo o que nos deixa entre o espanto e o riso, com uma incredulidade bem-disposta.
“Porque é que não assumimos que as histórias absurdas, surpreendentes, surreais, valem a pena contar? Há uma perda coletiva se nos esquecermos delas”, questionou-se Filipe Santos Costa, depois de os dois se aperceberem da quantidade de pequenas histórias que tinham ficado de fora do livro de ambos sobre O Independente. “Quanto mais íamos vasculhar, mais material tínhamos”, acrescenta Liliana Valente, que diz que o projeto andou a fermentar durante quase oito anos, numa recolha que passou pelas histórias que ambos presenciaram como jornalistas, mas também pela leitura de jornais antigos, biografias e Diários da Assembleia da República e por conversas com alguns dos protagonistas. O manancial era tão grande que às tantas tinham um livro de quase 400 páginas e, ainda assim, houve episódios que ficaram de fora. “Temos na prática um segundo livro de histórias que não entraram aqui”, diz Liliana Valente, ainda sem saber se esse segundo volume verá a luz do dia, mas consciente de que a pesquisa não procurou só histórias divertidas. “A ideia era ter as histórias mais inusitadas que fazem parte da nossa memória coletiva nestes 50 anos de democracia, que fossem estranhas, mas também com significado.”