Miguel Pinto Luz chegou ao edifício da Parpública ao final da tarde. Dois dias antes, o Programa de Governo tinha sido chumbado pelo Parlamento, mas a privatização da TAP era um comboio em andamento que o executivo não quis travar. Tinha ficado decidido que Pinto Luz, secretário de Estado das Infraestruturas, e Isabel Castelo Branco, secretária de Estado do Tesouro, estariam presentes na assinatura dos contratos para a venda da TAP a David Neelman e Humberto Pedrosa. “Achámos que o governo devia estar presente”, diz à VISÃO uma fonte que estava na altura no executivo de Passos. Os papéis iam passando pelas mãos dos compradores. “Havia muitos contratos conexos, leasings de aviões. Aquilo prolongou-se. Andámos de uma sala para a outra”, conta quem estava presente. A dada altura, mandou-se vir comida, quando se percebeu que o processo ia arrastar-se pela noite dentro. Já muito tarde, é feita a fotografia que o Expresso publicou no dia 12 de novembro de 2015 e que até hoje persegue Miguel Pinto Luz.
Nessa foto aparece David Neelman no topo da mesa, ao lado de um sorridente Pedro Ferreira Pinto, o então presidente da Parpública, enquanto do outro lado de Neelman está Humberto Pedrosa, ao canto da mesa, de caneta em punho a desenhar a assinatura. Do lado oposto, Isabel Castelo Branco olha para o fundo da sala e Pinto Luz tem as mãos debaixo da mesa. Essa imagem ficou para a história como a da assinatura de uma privatização politicamente muito contestada e amarrou Miguel Pinto Luz a um negócio que nove anos depois volta a ser notícia por causa de um relatório da Inspeção-Geral de Finanças (IGF) que confirma o que uma auditoria interna da TAP e a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre a empresa já tinham sinalizado: a venda da companhia aérea foi realizada graças a um acordo que Neelman fez com a Airbus, que na prática pôs a TAP a pagar a sua própria capitalização.