Margarida Blasco ficou na berlinda quando falhas de segurança permitiram um assalto ao edifício da Secretaria-Geral da Administração Interna, Rita Júdice também ficou no olho do furacão, depois de cinco reclusos perigosos conseguirem fugir da prisão de Vale de Judeus. A gestão das crises que se seguiram a dois incidentes sem precedentes foi, porém, diferente.
Gestão de comunicação
Rita Júdice ficou em silêncio perante a fuga de cinco reclusos perigosos. Entre sábado e terça-feira a única informação que veio do Ministério da Justiça foi para explicar que a ministra só falaria quando estivesse na posse de todas as informações. O silêncio foi duramente criticado pelos partidos da oposição e por vários comentadores, incluindo o social-democrata Marques Mendes. Durante quatro dias, a ministra não apareceu e apenas o ministro da Presidência, António Leitão Amaro, falou sobre o assunto, já na terça-feira, admitindo, em reação à insistência dos jornalistas, ser uma “situação preocupante e delicada”, mas sem adiantar muito mais.
Depois de muita pressão e numa altura em que as autoridades desconhecem ainda o paradeiro dos criminosos em fuga, Rita Alarcão convocou uma conferência de imprensa e justificou o seu silêncio. “Enquanto ministra da Justiça, entendi ser crucial dar espaço à investigação, não contribuindo para o ruído de fundo, que surge sempre nestes momentos. Ao mesmo tempo procurei reunir toda a informação possível, ouvir as explicações. Falar por falar não é meu timbre”, afirmou.
No caso de Margarida Blasco, a ministra da Administração Interna também não fez declarações sobre o assalto à Secretaria-Geral do MAI, mas o seu gabinete emitiu um comunicado logo nesse dia, partilhando algumas informações sobre o caso.
Alguns dias mais tarde e já depois de ter sido detido um suspeito do assalto, o gabinete de Blasco emitiu um novo comunicado, com algumas informações contraditórias.
Nesse texto, o MAI diz que “não corresponde à verdade que as câmaras de videovigilância, do edifício que sofreu a intrusão, estivessem avariadas ou desligadas, na altura da intrusão, já que estavam a funcionar normalmente e as imagens eram visíveis no respetivo posto de controlo”, apesar de se terem passado várias horas entre o assalto, ocorrido por volta das cinco da manhã, e o momento em que, já perto das 10h se deu pelo facto de os gabinetes terem sido remexidos e de faltarem dois computadores, dois deles de dirigentes da Secretaria-Geral.
Apesar dessa declaração sobre o funcionamento das câmaras, o mesmo comunicado admite que “havia uma falha na gravação de imagens “ no momento em que se deu o assalto.
Assumir “falhas muito graves” ou desvalorizar o incidente?
Quando, finalmente, falou ao País, numa conferência de imprensa, Rita Júdice não hesitou em reconhecer a gravidade de uma situação que não só permitiu a fuga de presos perigosos como revelou várias falhas que tornaram mais difícil às autoridades apanhá-los.
“A fuga de cinco reclusos, perigosos, em plena luz do dia, com ajuda externa, saltando dois muros, um deles com seis metros é de uma gravidade extrema”, assumiu a ministra da Justiça, vincando que a situação “é de uma gravidade que não podemos desculpar”, antes de proceder à cronologia de todos os factos já apurados sobre a “cadeia sucessiva de erros e falhas muito graves” que permitiu a fuga.
“Vimos desleixo, vimos facilidade, vimos irresponsabilidade e vimos falta de comando”, reconheceu, sem hesitar em carregar nas cores, antes de revelar ter aceitado os pedidos de demissão do diretor-geral da DGRSP e do subdiretor-geral com o pelouro dos Estabelecimentos Prisionais e de anunciar que pediu à Inspeção-Geral dos Serviços de Justiça uma auditoria aos sistemas de segurança de todos os 49 estabelecimentos prisionais do país e uma “auditoria de gestão” ao sistema prisional.
A reação de Margarida Blasco foi bem diferente. A ministra da Administração Interna optou por não dar uma conferência de imprensa sobre o assalto à Secretaria-Geral do MAI e o comunicado que emitiu, após a detenção do suspeito, tinha nas entrelinhas alguma desvalorização de um caso que expôs a forma como, aparentemente, um criminoso de delito comum se infiltrou sem dificuldades num edifício onde há informações sensíveis para a segurança nacional.
Nesse comunicado, o MAI frisa que dos oito computadores roubados “só dois estavam a uso”, não valorizando o facto de um deles ser da secretária-geral adjunta e outro do responsável pela Informática da Secretaria-Geral do MAI, nem dando justificações para a demora no aviso sobre o assalto à PJ, ao SIS e ao CEGER (que gere a rede informática do Governo e que é essencial para bloquear informações à distância).
“Seja nos computadores de reserva/substituição, seja no caso dos dois computadores que estavam a uso, não existiu, nem existe, qualquer risco de acesso a qualquer informação e ou documentos, confidenciais ou não”, diz o mesmo comunicado, sem uma palavra sobre a forma como a montagem de andaimes no edifício contíguo, por onde entrou o assaltante, não ter levado a uma reavaliação do esquema de segurança do mesmo.
Ao contrário de Rita Júdice que fez rolar cabeças para deixar clara a gravidade da situação e que frisou que iria garantir que o caso levaria a ações disciplinares e penais, Margarida Blasco não fez cair o Secretário-Geral da Administração Interna, dando mais importância ao facto de o furto parecer não ter tido consequências de maior do que à forma como a Secretaria-Geral do MAI se encontrava vulnerável.