Quando, a 19 deste mês, Marcelo Rebelo de Sousa subiu ao palanque da Assembleia Geral da ONU para discursar, na abertura da 78ª sessão da organização, já sabia que iria fazer algumas alterações ao texto previamente preparado pela sua assessoria, em concertação com o Ministério dos Negócios Estrangeiros. Depois de Guterres ter aberto a sessão, tinha falado o Presidente do Brasil, Lula da Silva, e, logo a seguir, Joe Biden, Presidente dos EUA. Este é o alinhamento tradicional, seguindo-se as inscrições. E o PR português, por sorte, seria o 8º líder mundial a intervir, quando a sala ainda estava cheia e no seu pico de atenção. Marcelo calhou mais ou menos a meio entre Biden e o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que falaria quatro intervenções depois.
A diplomacia é, também, uma arte vocal e uma atividade que usa a ferramenta das palavras. Quando o Presidente começou a discursar, o ministro dos Negócios Estrangeiros terá pensado: “O que é que vai sair dali?” O que saiu foi mais ou menos o que tinha sido concertado, sem desvios face à política externa definida, mas, agora, com o upgrade da intuição presidencial, depois de ter ouvido Lula e Biden. O principal objetivo do PR foi estabelecer uma ligação entre Lula e Biden (sabendo que as posições do Brasil, sobre a Ucrânia, não têm estado alinhadas com as do Ocidente…) e, de certa forma, responder-lhes, sintetizando ambas as intervenções.
