“Não haverá nehuma solução governativa na Madeira que inclua o Chega. E o que acontece na Madeira é o que acontecerá no País: não haverá qualquer solução governativa com o Chega”.
Foi preciso a perda da maioria absoluta na Madeira para que Luís Montenegro fosse mais explícito do que nunca, relativamente à política de alianças – ou à recusa delas – com o partido de André Ventura. Depois da frustração dos resultados na Região Autónoma, Montenegro teria de tirar um coelho da cartola que lhe permitisse dar a volta por cima. Este trunfo estava guardado para uma emergência e terá sido hoje. O líder do Chega tinha falado grosso, no seu discurso de “vitória” – deselegantemente proferido antes do discurso do candidato madeirense Miguel Castro… – e Montenegro aumentou o tom. A declaração do líder do PSD é, a vários níveis, histórica.
Não haverá solução governativa com o Chega, nem na Madeira, nem no País
Entretanto, na Madeira, a vida continuava. E Nuno Morna, deputado regional eleito pela IL, já abriu a porta a um entendimento com o PSD, aparentemente, fazendo-se pagar caro: “Veremos passo a passo, medida a medida, orçamento a orçamento”. Será “o adulto na sala”, na expressão de Rui Rocha, líder dos liberais… Na verdade, A IL não pode pedir de mais, porque tem um concorrente no PAN, que também elegeu um deputado…
E Miguel Albuquerque, que manteve o suspense até final da noite, apareceu dinâmico e satisfeito com a vitória “em todos os concelhos e em 52 das 54 freguesias”. Realmente, ele disse que só governaria num quadro de maioria absoluta – mas nunca disse que partidos podiam fazer parte dessa maioria… Assim, com a naturalidade possível, afirmou que, nos próximos dias, vai apresentar essa solução maioritária na Assembleia Regional, que lhe permita continuar a governar em maioria. E, dessa solução, não fará parte o Chega.
Assim se esvazia um balão, mediante um jogo de palavras: “maiorias há muitas”. Esta semana, saberemos com quem dançará o PSD/Madeira: se com a Il, se com o PAN, ou se com ambos.
O laboratório político da Madeira terá, assim impacto nacional. Luís Monenegro disse: “Quem me dera a mim ter um resultado destes” e afirmou qe António Costa, ao contrário de há quatro anos, “se evaporou”. Ao mesmo tempo, acertando o passo com Miguel Albuquerque, descartou o Chega, como nunca o tinha feito. E André Ventura, que exigiu a demissão de Albuquerque, ficou a falar sozinho.
Na filigrana do jogo político, assim se transforma um objetivo falhado numa vantagem política. Mas o truque de Miguel Albuquerque sobre a sua curiosa definição de “maioria absoluta” ensina-nos até que ponto a dissimulação pode ser igual a “fazer política”.