A antecipação do debate sobre as candidaturas à Presidência da República, em 2026, tema que agitou a agenda mediática nas últimas semanas, é a reposição de um filme que já foi visto antes na política portuguesa. Tudo por causa de declarações de aparente disponibilidade, de Pedro Santana Lopes, e do pré-anúncio de Marques Mendes, no espaço de comentário, ao domingo à noite, em horário nobre. Antecipar os calendários e as pré-campanhas pode parecer uma moda recente, mas existe um elucidativo precedente – para citar o exemplo mais notável – que remonta ao início dos anos 90 do século passado. Em 1989, no rescaldo da vitória autárquica de Jorge Sampaio, em Lisboa, o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros e reputado político e professor açoriano, José Medeiros Ferreira, escrevia, no Diário de Notícias: “É o candidato presidencial mais forte para o ano de 1996.” A presciência do intelectual açoriano era tanto mais notável quanto se sabia que a ideia de Sampaio, então líder do PS, era a de chegar, não a Presidente, mas a primeiro-ministro. E isto foi escrito mais de seis anos antes da pugna eleitoral a que Medeiros Ferreira aludia ‒ e quando Mário Soares ainda nem sequer tinha concorrido a um segundo mandato (que iniciaria em 1991)… E foi só muito depois de ter perdido as legislativas, contra o PSD de Cavaco Silva, também em 1991, de ter perdido a liderança do PS e enquanto cumpria o segundo mandato em Lisboa ‒ e o cavaquismo entrava em derrapagem ‒, que Sampaio pediu desforra, numa entrevista que, em fevereiro de 1994, quase dois anos antes da peleja eleitoral presidencial, foi chamada de capa no Expresso, que titulou com uma citação do entrevistado: “Seria estimulante para mim um confronto com Cavaco nas eleições presidenciais.” António Guterres, que já liderava o PS e teria escolhido outra solução para Belém, ouviu e calou. O território estava marcado.
A frase-chave de Sampaio