“Uma corda ao pescoço ainda era pouco”.
“Coelho? Cuidado pode levar um tiro de um caçador!”.
“Precisavas de um pau de Marmeleira pelas orelhas abaixo pelas mentiras que inventas. Palerma!”.
“E bem merece umas no trombone”.
“Se te apanho… levas mesmo…”.
“Triste, triste, triste tão triste que até apetece cortar os pulsos (os dele, claro!)”.
“Quando começar a caça avisem que estou a afiar a forquilha”.
“Se Jorge Coelho podia, também posso: Quem se mete leva e não é pouco”; “Tarde ou cedo… tarde ou cedo… aguardem”.
“Este Rato Albino, vai ter um xi-coração apertadinho quando o vir. Gosto tanto de ratos, assim como do esgoto em que vivem!!!”
Estes são algumas das alegadas ameaças e comentários nas redes sociais da autoria de Luc Mombito e Nuno “Pit” Pontes, funcionários e dirigentes do Chega, dirigidas ao jornalista Pedro Coelho, da SIC, na sequência da série de cinco reportagens sobre o partido, intitulada “A Grande Ilusão” e transmitida em 2021. Na sequência de um comunicado do International Press Institute (IPI), que monitoriza situações do género em relação a jornalistas, o Ministério Público ouviu o repórter português e esta terça, 6, a Unidade Nacional de Contraterrorismo da PJ entrou em campo: Luc Mombito foi alvo de buscas, constituído arguido e interrogado. Quanto a Nuno Pontes, também funcionário, dirigente e autarca do partido liderado por André Ventura, foi alvo de buscas, em Gondomar, e detido, em flagrante delito, por posse ilegal de arma e de 30 munições. Ambos são suspeitos de crimes de injúria agravada, ameaça agravada e atentado à liberdade de Imprensa.
O “faz tudo” e o ex-segurança

Luc Ngambo Ngunda Mombito, natural do antigo Zaire (atual República Democrática do Congo), antigo ajudante de cozinha num restaurante de Londres, conselheiro nacional e assessor do Chega, é conhecido como o “faz tudo” de André Ventura. Em tribunal, no caso que opôs a família Coxi, do Bairro da Jamaica, ao líder do partido, Mombito apresentou-se como motorista, secretário pessoal de Ventura (conheceram-se no seminário, na juventude) e gestor do Twitter do Chega, rede social da qual já foi suspenso por causa das suas ameaças e insultos. Após interrogado pela PJ, Luc Mombito ficou sem o seu telemóvel, apreendido no âmbito das investigações.

Quanto a Nuno Miguel Pontes, mais conhecido por Nuno “Pit” Pontes, é um dos fundadores do Chega no Porto e vice-presidente da distrital do partido desde 2022, além de ter ido em 4º lugar na lista das última legislativas pelo distrito. Ex-segurança privado e praticante de boxe, é atualmente deputado municipal em Gondomar, onde vive. Como prémio pela sua lealdade a Ventura desde o tempo em que recolhia assinaturas para a legalização do partido, Nuno Pontes passou a assessor da distrital do Porto em 2022, auferindo um vencimento bruto acima dos 1000 €. Nuno chegou ontem a Lisboa num carro celular, depois de apreendida a arma (uma 6.35mm e 30 balas). Hoje saberá as medidas de coação.
Reagindo a estas ações da PJ, André Ventura pediu às autoridades para não se esquecerem dos “casos em que os membros do Chega – e eu próprio – somos ameaçados”. Quanto a possíveis ações disciplinares a aplicar aos dirigentes suspeitos, afirmou aguardar pelo desenrolar das investigações, mas garantiu. “Enquanto eu for presidente do Chega haverá sempre consequências [disciplinares]”.