As campainhas de alarme soaram, na semana passada, no Largo do Rato, quando o nome de Duarte Cordeiro (com Fernando Medina) foi associado ao processo Tutti Frutti . Depois dos estilhaços, que atingiram os principais pesos-pesados do Governo e a primeira linha na sucessão a António Costa, Pedro Nuno Santos, Fernando Medina, Mariana Vieira da Silva e Ana Catarina Mendes, eis que um petardo explodia no colo de um dos (crescentemente) mais influentes nomes do Governo e, também, um dos ministros que António Costa tem em melhor apreço. O primeiro-ministro, garante uma fonte muito bem informada no Governo, reconhece a Cordeiro a “capacidade de trabalho” e a “preparação” e, sobretudo, “uma grande sagacidade política”, que já vem do tempo em que o então secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares geria o diálogo com os partidos da Geringonça, no difícil momento em que os acordos à esquerda começavam a esboroar-se. “Conseguiu dizer ‘não’ às exigências orçamentais do BE e do PCP, nas negociações para o Orçamento do Estado (chumbado) de 2022, sem ter hostilizado, por um momento, o eleitorado mais à esquerda”, diz uma fonte próxima de São Bento. Ora, depois de todos os episódios que têm envolvido os principais “ministros políticos”, já se fala, no PS e, à boca pequena, no Governo, no “tiro ao sucessor”…
Não que Duarte Cordeiro seja considerado um nome óbvio à sucessão de António Costa, mas faz hoje parte do núcleo duro, e, como a VISÃO escreveu na altura, a sua promoção a ministro, no Governo de maioria absoluta, com um grande poder de decisão sobre as verbas do PRR indicava a sua trajetória ascendente e colocava-o como uma espécie de “suplente” para uma futura liderança do partido. Ora, o ministro do Ambiente e da Ação Climática tinha escapado, até agora, à onda de “casos e casinhos”, que assolou o primeiro ano da maioria absoluta, e, dos “ministros políticos”, ele e o colega da Administração Interna, José Luís Carneiro, eram os únicos que mantinham intacto (ou tinham reforçado) o prestígio. Um dirigente do PS disse mesmo à VISÃO que o cerco a algumas das principais figuras do partido, que, nalguns casos, “envolvem fugas orientadas de informação” provenientes do Ministério Público, faz lembrar os tempos do processo Casa Pia, em que se falou de tentativas de “decapitação política” da direção do PS. Mas outra fonte considera tal comparação um exagero: “No máximo, António Costa acaba por cimentar a sua posição como líder incontornável” do partido, por “muitos e bons anos”.
