Já lá vão mais de 15 anos desde que Pedro Soares e Mariana Mortágua se cruzaram pela primeira vez. Na altura, com cerca de três décadas de ativismo político, em que se incluíam cargos na UDP e a participação na génese do Bloco de Esquerda, o dirigente sentou-se junto a Joana Mortágua, irmã gémea de Mariana, na sala do Teatro São Luiz, em Lisboa. Então uma jovem militante do BE, Joana apresentou a irmã, estudante de Economia do ISCTE, que estava sentada na cadeira ao seu lado. Os dois bloquistas que chegam ao Pavilhão do Casal Vistoso, em Lisboa, neste sábado, para se baterem pelo lugar de Catarina Martins na Mesa Nacional do partido só viriam a reencontrar-se na Assembleia da República algum tempo depois: era ele deputado, numa legislatura que terminaria, para o PS, de forma abrupta, em 2011, e ela estreava-se como assessora da bancada parlamentar do Bloco, na área das Finanças.

Desde essa altura, apesar de serem dois dos quadros do BE mais ativos – ele em Braga, ela em Lisboa –, fizeram por não se juntar nas mesmas fileiras, tendo em conta as visões distintas que têm para o partido, criado em 1999. No pico da Geringonça, cristalizou-se um afastamento, fruto do apelo de Pedro Soares para que o Bloco se distanciasse da gestão socialista, e perante uma Mariana Mortágua que até via um imposto cunhado com o seu nome. Na reunião magna do partido, neste fim de semana, as moções que ambos encabeçam espelham esses percursos: a A, de Mortágua, é sinónimo de uma continuidade da direção de Catarina Martins, enquanto a E, de Soares, bate-se pelo apuramento de responsabilidades na erosão eleitoral, que o partido sofreu desde 2019, e aposta num regresso a uma fórmula do passado, que catapultou o BE no cenário político nacional, ao ponto de se ter tornado uma referência para a nova esquerda europeia.