O deputado do Chega Filipe Melo está a ser acusado de recorrer ao “serviço” de elementos ligados às claques do Vitória de Guimarães para intimidar, insultar e agredir os adversários políticos no distrito de Braga.
Em causa estão os alegados insultos e as agressões contra os apoiantes da lista concorrente às eleições para escolher os delegados para o Congresso do partido, que se realizaram em janeiro. Testemunhas dos acontecimentos – mas que não querem ser identificadas, por “terem receio de sofrer represálias” –, contam, à VISÃO, que, “ao final da tarde do passado dia 8 de janeiro, um grupo de pessoas ligadas às claques do Vitória [Sport Clube] insultou e agrediu militantes do Chega que integravam e apoiavam a lista B”. As mesmas fontes garantem que “esta não é a primeira vez” que acontece algo do género, acrescentando que “este grupo tem funcionado, em Braga, como uma ‘guarda pretoriana” de Filipe Melo, líder da distrital e deputado eleito pelo círculo bracarense.
Segundo ainda descrevem as testemunhas, os confrontos terão ocorrido ao final da tarde desse domingo, entre as 17h e as 18h, na Rua Dom Afonso Henriques, frente à sede da Junta de Freguesia da Sé, Braga – onde decorria o ato eleitoral. Os militantes do Chega ligados à lista B já se encontravam no local, quando um grupo de indivíduos ligados às claques do clube de Guimarães, ali chegados, lançou vários insultos aos presentes, chegando mesmo a agredir um deles com “uma cabeçada”, garantem. A vítima terá optado por não apresentar queixa junto das autoridades.
Vereador de Vila Verde diz “sentir vergonha daquilo em que o Chega se tornou”
As acusações surgem menos de 24 horas depois de Fernando Feitor Silva, vereador na Câmara Municipal de Vila Verde (Braga), eleito pelo Chega nas Autárquicas de setembro de 2021, ter publicado um post na rede social Facebook em que confirma esta versão. “Portugueses de bem? Em Braga ameaçaram-me no dia das eleições para o V Congresso, e uns meliantes/apoiantes da lista A ainda andaram às cabeçadas aos militantes que me apoiaram. UMA VERGONHA! Tal é a nossa vergonha que até hoje ficamos em silêncio”, lê-se naquela publicação.
Em declarações à VISÃO, Fernando Feitor Silva – que, nos últimos meses, entrou em “choque” com os órgãos distritais e nacionais do partido (tendo mesmo já sido suspenso, durante 30 dias, pela Comissão de Ética, em maio de 2022) – confirma “que os insultos e as agressões existiram, de facto”, afirmando que não denunciou o caso publicamente apenas por “sentir vergonha daquilo em que o Chega se tornou”.
O autarca vai ainda mais longe, considerando que este exemplo “prova a falta de democracia interna que, atualmente, existe no partido”, e que terá impedido a presença de delegados opositores à atual liderança do Chega, na reunião magna do partido, que se realizou nos dias 27, 28 e 29 de janeiro, no Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas (CNEMA), em Santarém – e reelegeu André Ventura como presidente, com 98,3% dos votos.
As críticas internas já tinham subido de tom depois das alterações no Conselho Nacional do Chega, que se realizou em dezembro do ano passado, em Castrelo Branco, que modificaram as regras das eleições dos delegados para a Convenção do partido, deixando estas de estar baseadas no método de Hondt, e passando a funcionar por maioria – o que, na prática, faz com que cada distrital apenas leve à reunião magna representantes da lista vencedora.
E assim também aconteceu em Braga, como todos os delegados eleitos a serem próximos da atual direção nacional. “O André Ventura blindou o partido de tal maneira que as estruturas estão todas controladas. Neste momento, os presidentes das distritais são todos da sua confiança, e os outros foram sendo, gradualmente, afastados. As opiniões contrárias ao discurso oficial não são permitidas no Chega”, lamenta Fernando Feitor Silva.
“É algo totalmente infundado, refuto todas as acusações”, afirma Filipe Melo
Contactado pela VISÃO, Filipe Melo mostra-se “surpreendido” com estas acusações. E nega que o clima político em Braga seja assim tão “quente”. “Há confronto político em Braga? Há! Mas tudo dentro de um registo calmo e de respeito. Insultos e agressões, isso não”, garante.
Sobre a alegada ligação às claques do Vitória de Guimarães, Filipe Melo considera que “é um perfeito absurdo, que não faz sentido nenhum”. “É normal que militantes do Chega tenham filiação clubística ou façam parte de uma claque. Eu próprio sou sócio de um clube. O futebol faz parte da vida das pessoas. Agora, organizarem-se para intimidar, insultar ou agredir? É algo totalmente infundado, refuto todas as acusações”, afirma.
O deputado do Chega “não sabe se houve ou não” confrontos no dia das eleições (8 de janeiro), mas refere que “esta é a primeira vez que ouve falar no assunto”. “Votei na sede da Junta de Freguesia da Sé a meio dessa tarde, regressei ao local, já ao início da noite, para conhecer o resultado das eleições, e o clima era absolutamente tranquilo. Não me foi relatada nenhuma situação de troca de insultos ou de agressões físicas. Aliás, o que vi foram pessoas das duas listas a cumprimetarem-se e até a conversarem de forma perfeitamente saudável”, diz.
A terminar, o também líder da distrital do Chega de Braga deixa um apelo para que as testemunhas que revelaram o alegado episódio de violência que “se identifiquem e se, caso tenham sido alvo de insultos e agressões, participem o caso às autoridades”. “Terei todo o gosto em ser testemunha nesse processo”, conclui