O jornalista Bruno Amaral de Carvalho, que se tem destacado a acompanhar a guerra na Ucrânia, em reportagens transmitidas pela CNN Portugal, a partir do lado controlado pelo invasor russo, foi eleito pela CDU para a Assembleia Municipal da Amadora, nas últimas eleições autárquicas, realizadas em setembro de 2021.
O trabalho de Bruno Amaral de Carvalho, também já publicado no jornal Público, tem motivado polémica e discussão junto da opinião pública portuguesa, por o jornalista freelancer, que tem percorrido, em particular, a região do Donbass, guiado pelos exércitos russo e de separatistas pró-russos, manter uma posição crítica em relação a Kiev.
No seu canal do Telegram, Bruno Amaral de Carvalho – que já colaborou com publicações como Abril Abril, Contacto ou A Voz do Operário, entre outros – tem destacado teorias que apontam para “a incorporação de nazis” no exército ucraniano, dando como principal exemplo aquele que, normalmente, designa como “o neonazi batalhão Azov”, posição, aliás, que vai ao encontro da defendida por elementos do PCP, partido pelo qual foi eleito autarca na Amadora.
Ontem, o jornalista voltou a publicar no Telegram uma imagem onde se pode ver uma edição do livro Mein Kampf (A Minha Luta), da autoria de Adolf Hitler, junto de uma bandeira ucraniana, alegadamente encontrado por “um colega jornalista numa estante dentro de uma casa”, na localidade de Rubizhne, na região fronteiriça, controlada pelos russos, de Lugansk – insistindo (e reforçando) nova conotação entre Ucrânia e nazis.
Uma informação que está na linha de outras reportagens polémicas no terreno. Desde 28 de março, o jornalista freelancer já mostrou ao País mísseis ucranianos Toshka-U que, alegadamente, atingiram estruturas civis, falou com cidadãos pró-russos alegadamente “roubados” pelas forças ucranianas e negou a existência de valas comuns em Mariupol, provocadas pelos ataques russos.
A atuação de Bruno Amaral de Carvalho na Ucrânia tem sido publicamente criticada por várias personalidades, inclusivamente, na semana passada, por um membro do Governo português – João Galamba, secretário de Estado do Ambiente e da Energia, ironizou, no Twitter, com uma informação partilhada, nessa mesma rede social, pelo própio jornalista freelancer.
“Os ucranianos estão a ser muito maus, quiçá, péssimos”, escreveu João Galamba, antes de colocar em causa a profissão de Bruno Amaral de Carvalho. O visado, novamente no Telegram, reagiu, manifestando preocupação com o que considerou ser “um ataque grave”, vindo de um membro do Governo português, e pedindo a intervenção no caso do Sindicato dos Jornalistas.
Ana Gomes volta a criticar CNN Portugal
As regras da Comissão da Carteira Profissional de Jornalista (CCPJ) não impedem que Bruno Amaral de Carvalho concilie o mandato de deputado municipal na Amadora com a prática do jornalismo – isso apenas se verifica em cargos que tenham funções executivas.
Contactada pela VISÃO, a ex-diplomata Ana Gomes, que já lançou críticas à CNN Portugal, por transmitir os conteúdos da autoria de Bruno Amaral de Carvalho, volta a afirmar que “não coloca em causa a ética do jornalista, mas sim a do órgão de comunicação social que continua a transmitir as reportagens da sua autoria como se fossem imparciais”.
“Esta pessoa [Bruno Amaral de Carvalho] não está em situação de fazer livremente o seu trabalho. Aquilo que se vê nas suas peças é apenas a realidade de uma potência invasora”, sublinha, questionando: “Se na Rússia não se respeita a liberdade de informação, se na Rússia um cidadão comum não pode pronunciar a palavra ‘guerra’, se na Rússia os jornais não podem publicar notícias sobre o conflito, como pode um jornalista, na linha da frente, acompanhado pela tropas russas, ser capaz de transmitir a realidade de forma isenta?”.
“O jornalista quer fazer o seu trabalho de acordo com a sua lente? Tudo bem! O que não pode acontecer, o que não posso aceitar, é que uma televisão [CNN Portugal] continue a transmitir estas reportagens sem prevenir os telespectadores que isto não é jornalismo, que este jornalista não é livre, e que apenas está a dar a versão dos acontecimentos que interessam ao agressor, que, neste caso, é a Rússia”, conclui Ana Gomes.