Não é segredo de estado nenhum que o Presidente da República não queria que o desconfinamento se iniciasse antes da Páscoa, tendo chegado a apelar ao “rigor pascal”. Na terça-feira, durante a cerimónia da tomada de posse do segundo mandato, Marcelo Rebelo de Sousa voltava a pedir um “desconfinamento sensato”. E, no dia em António Costa apresenta o plano, Marcelo escolheu a distanciar-se do assunto. Literalmente, porque embarcou às 19:00 num voo em direção ao Vaticano.
O Presidente não vai falar ao País sobre a renovação do estado de emergência, como tem vindo a fazer por sistema, com exceção do período eleitoral das Presidenciais. Marcelo terá tomado conhecimento de uma versão do plano de desconfinamento na noite anterior, durante um jantar com o primeiro-ministro, mas ainda não conhece a versão definitiva por esta ter estado a ser discutida pelo Governo até agora. “Não posso comentar decisões sobre o desconfinamento que ainda não conheço”, disse ao Expresso.
Por sua vez, António Costa, questionado sobre a reação de Marcelo ao plano, garantiu que há uma “grande solidariedade institucional e estratégica nesta matéria”. “Mas não sou porta-voz do Presidente da República. Não vou falar por ela”, acrescentou.
O primeiro-ministro apresentou esta quinta-feira à noite o plano de desconfinamento para o País, que “prevê uma reabertura a conta gotas” entre a próxima segunda-feira, dia 15, e o dia 3 de maio. Na próxima semana reabrem as creches, o pré-escolar, as escolas para o primeiro ciclo, os ATL, comércio ao postigo, cabeleireiros, manicuras, livrarias e comercio automóvel. Depois será a vez das escolas dos 2.º e 3.º ciclos, lojas com porta para a rua e até 200 m2, esplanadas de café, restaurantes e pastelarias (com um máximo de 4 pessoas por mesa), museus, outros monumentos e modalidades desportivas de baixo risco.
António Costa lembrou, no entanto, que este processo está “obviamente sujeito a uma reavaliação quinzenal de acordo com a avaliação de risco que adotámos”, não excluindo a possibilidade de terem de ser dados passos atrás na reabertura; exatamente o que Marcelo pediu sempre que fosse evitado ao máximo.