Diz-se natural de Ourém, concelho habituado a milagres. Ele, por seu lado, está convencido de que é uma fulgurante aparição na Direita portuguesa, mas isso ainda falta comprovar. Uma coisa não se pode negar: o Doutor Jovem Conservador de Direita – ele gosta de ser tratado assim – é já um fenómeno das redes sociais com quase 25 mil seguidores. E chegou a colunista do jornal i. Defeitos não assume, fraquezas talvez. “Uma das desvantagens do meu brilhantismo é que tenho dificuldades em lidar com o fracasso”, admite. As suas opiniões são firmes e, aqui e ali, apimentadas. Com risca ao lado, claro. Exemplos? É só ir à cartilha. Defende a privatização da escola pública “como maneira de aumentar a qualidade na educação”. Considera a divulgação dos Panama Papers uma tragédia: “Acham justo que um rico tenha de passar pela vergonha de ter de exilar a sua fortuna para um paraíso fiscal quando poderia tê-la ao pé de si, no seu País Natal? Pensam que um rico fica indiferente ao sofrimento de estar longe do seu dinheiro, sem saber se pode haver um golpe de Estado no Panamá e toda a sua fortuna ser nacionalizada?”, interroga-nos.
Para ele, Donald Trump é apenas “um troll plantado pelo Partido Democrata para destruir as hipóteses de o Partido Republicano ganhar as eleições”. Paulo Portas é uma espécie de “Pacman de gravata” que, de tanto lixo engolir se tornou “tóxico”. Catarina Martins, essa, precisaria talvez “do amparo e do carinho de um homem de direita que lhe possa ensinar que uma mulher se sente mais feliz quando cumpre a missão que lhe foi destinada por Deus”.
Ora, o Doutor Jovem Conservador de Direita tem andado por aí, como o outro. Mas ao vivo e em direto só mesmo no último congresso do PSD, onde apareceu ao lado de algumas referências do partido que pretende liderar e fundir com o CDS. O que ainda não lhe tinha acontecido era apresentar um livro escrito por “esquerdalhos” (palavras dele). O momento para ouvir e ver o Doutor é já no dia 20, no Porto, na Cooperativa Árvore. Da autoria dos sociólogos José Soeiro e Adriano Campos, a obra A Falácia do Empreendedorismo (Bertrand) não deverá sobreviver ao escrutínio do Doutor Jovem Conservador de Direita. “Podem querer encurralar-me e acharam que a melhor maneira de apresentar o seu livro era sacrificar um verdadeiro neoliberal no seu altar sociológico de esquerda. Uma forma simbólica de demonstrarem a sua superioridade entre os pares. Acham que me vão destruir e que no final vão comer sandes de Jovem Conservador de Direita. O que eles desconhecem é que colocaram uma verdadeira bomba armadilhada para espalhar a ideologia da direita na sua própria casa”, promete. Numa entrevista quase arrancada a ferros, o Doutor Jovem Conservador de Direita explica ao que vem. Sem filtros. A brincar, a brincar, talvez seja melhor levá-lo a sério…
Como é que um jovem conservador de direita se presta a apresentar um livro de dois sociólogos “esquerdalhos”, como se dizia antigamente?
Porque fui convidado e, como líder de opinião, seria incapaz de fugir a este desafio. Principalmente quando é a honra do meu querido empreendedorismo que está em causa. Na verdade, penso que, na área da direita e da gestão, sou a pessoa mais habilitada para falar de empreendedorismo e o facto de me terem convidado é demonstrativo disso. É muito fácil defender o empreendedorismo em Ted Talks, no Prós e Contras ou em salas de formação do IEFP. Difícil é defender o empreendedorismo entre anti-empreendedores. Não espero convencer toda a gente mas, se inspirar pelo menos 10 dos presentes a criarem uma startup vencedora, dou-me por satisfeito.
Como se sobrevive a este período histórico dominado por uma Geringonça?
Não é fácil. Creio que acompanhar as minhas publicações no Facebook é uma das melhores maneiras de o fazer. Os meus textos têm sido uma fonte de esperança para muita gente. Temos vivido tempos difíceis mas há sempre uma luz ao fundo do túnel. Neste caso, eu. Aliás, posso aproveitar para fazer uma revelação que dará alento a muitas pessoas para acreditarem num mundo melhor. Neste momento está a decorrer um leilão entre vários grupos editoriais para decidir quem vai publicar o meu livro, que vai ser o grande manual de referência anti-geringonça. Na opinião de muita gente, a sua publicação vai ser o princípio do fim da geringonça.
Que papel é o de um jovem conservador de direita nos tempos que correm?
Fundamentalmente resistir. Resistir à direitofobia, o grande preconceito de que ninguém fala mas que tantos jovens conservadores de direita tem colocado no armário desde 1975. Até ao meu aparecimento no espaço público, muitos jovens passavam o tempo em casa, envergonhados da sua ideologia, das suas roupas, dos seus penteados de direita e do seu sucesso. Muitos deles até começaram a consumir drogas só para não os acusarem de ser de direita. O meu sucesso tem inspirado muitos jovens conservadores de direita a assumirem-se e a combater diretamente e com coragem o bullying direitofóbico. Tenho muito orgulho neles e na maneira corajosa como souberam utilizar o meu exemplo inspirador para mudar a sociedade.
Porque tem o Dr Passos e o Dr Nuno Melo como referências dos seus ataques? Não teme que isso se torne uma obsessão?
São dois grandes amigos que eu nunca atacaria. Apesar de não falarmos há algum tempo, o Dr. Nuno Melo é um dos meus melhores amigos e sabe que terá sempre a porta aberta para falar comigo. Eu e ele já passámos por muito, sabe? Vi-o bater no fundo e, sozinho, consegui recuperá-lo para a política. Sou o grande artífice do seu sucesso e estarei disposto a ajudá-lo no que ele precisar, caso assim o deseje. Quanto ao Dr. Passos Coelho, tive muito gosto em pertencer ao governo dele como assessor do Secretário de Estado e agradeço-lhe o sacrifício que ele está a fazer por mim neste momento. Os meus planos de chegar à liderança do PSD passam por ele se queimar politicamente como tem vindo a fazer, e bem. A ideia é ele, com as suas trapalhadas, criar um tremendo mal-estar dentro do PSD, que vai facilitar a minha ascensão a líder e consequente anexação do CDS. Os grandes líderes emergem do caos. Vai ser o meu caso, graças ao Dr. Passos Coelho e ao caos que ele está a criar.
Ainda há jovens conservadores de direita com quem debater as ideias para o futuro do País ou sente-se a falar para o boneco?
Graças a mim, cada vez mais. Dantes ser jovem conservador de direita era pouco cool. As referências que havia eram indivíduos com claros problemas como o Duarte Marques ou o João Almeida. Qual é o jovem que quer ser um Duarte Marques? Ninguém olha para um espelho mágico da Feira Popular e diz “gostava mesmo de ser assim”, pois não? Mas, por minha causa, voltou a haver orgulho no conservadorismo de direita. Inclusivamente tenho salvado muitos jovens do esquerdismo. Aliás, não ficaria surpreendido se o José Soeiro e o Adriano Campos se tornassem conservadores de direita depois de conviverem comigo. Quem sabe se um deles não se torna o próximo Dr. Durão Barroso? Para mim não há impossíveis e nunca é tarde para se escolher o lado da razão. Não me admiraria se o próximo livro deles se chamasse “De anti-empreendedores a grandes empresários: A grande jornada de dois ex-esquerdistas em direção ao sucesso.” Terei muito gosto em apresentar esse livro. As 3 palavras que mais gosto de ouvir são “tinha”, “razão” e “doutor” nesta sequência.
Quais são as suas referências políticas e literárias?
Os anos 80 estão para a música como estão para a política: é praticamente tudo excelente. No Olimpo das minhas referências estão o Dr. Ronald Reagan e a Dra. Thatcher. Se tiver de acrescentar um terceiro para formar uma Santíssima Trindade do liberalismo, sem dúvida que colocaria o Dr. D. João II. Foi um precursor da utilização de mão-de-obra barata em função do baixo poder de compra do consumidor e, tirando a negatividade ligada ao conceito de escravatura, é um dos fundadores do mercado livre e globalizado.
Quanto às referências literárias, as óbvias. E as melhores, como dita o mercado. O Dr. Camões, o Dr. José Rodrigues dos Santos e o Dr. Pedro Chagas Freitas. Se os tops dizem que são bons, é óbvio que são. De que vale fazer uma obra que a crítica aclama e que depois as pessoas não leem? É como a autossatisfação sexual. De que vale termos fluxo seminal, fautor da vida, se termina num pedaço de papel higiénico?
Salazar foi o Cavaco utópico ou Cavaco foi o Salazar possível?
Empregar a palavra ‘utópico’ ao lado de pessoas de direita é um oximoro. A utopia está reservada à esquerdalhada. Na direita optamos pelo pragmatismo. E às vezes o pragmatismo aleija, mas é necessário. É como educar pessoas. Educar implica privar de algo, para que isso ganhe valor. Na política é igual, sob pena de vivermos acima das nossas possibilidades. Serve isto para dizer que acredito piamente que o Dr. Cavaco Silva seria um excelente Dr. Salazar, caso vivêssemos em regime de ditadura. Assim como acredito que o Dr. Salazar seria um excelente Dr. Cavaco Silva caso experimentasse a democracia. Mas não o quero confundir e espero que não fique a achar que chamei fascista ao Dr. Cavaco, ou algo que se assemelhe. Tirando o antiparlamentarismo e o autoritarismo, acredito que o Dr. Salazar seria um ótimo ativo no combate à esquerdalhada. Já o Dr. Cavaco, para além de ser o melhor político em mais de 40 anos de democracia, conseguiu de certa forma combater a nossa Constituição, de forte teor utópico (leia-se, comuna) e imprimiu um estilo antibolchevista que, aos olhos dos democratas mais sensíveis, pode parecer uma espécie de autoritarismo, mas que o fez como missão democrática de impedir que o nosso país descambasse numa Coreia do Norte, como está em vias de acontecer.
Quais são as suas ambições?
Como crente, sinto que tenho uma missão bastante humilde. Essa missão passa por, nos próximos 20 anos, ser primeiro-ministro, Presidente da Comissão Europeia, Secretário-Geral das Nações Unidas, Presidente do FMI, receber o Prémio Nobel da Economia e da Paz no mesmo ano e criar uma vacina, economicamente rentável, contra a Sida ou a gripe. Os meus amigos dizem que tenho capacidades para isso e para muito mais, e quem sou eu para os contrariar? Afinal, estão apenas a retribuir por lhes ter arranjado emprego.
Por fim: o que é que o público deve saber mais de si e que nos esquecemos de perguntar?
Esta é a pergunta óbvia de um entrevistador que não se prepara, nem tem o dom natural do Dr. Daniel Oliveira para o diálogo. Mas vou ser condescendente, afinal pode vir a precisar de mim quando se quiser candidatar a meu assessor e dizer que lhe faltou perguntar qual o meu propósito de vida. E eu respondo-lhe: é ter sucesso. Porque o meu sucesso será o sucesso de todos. E se mudar o mundo, porque não? É essa a missão da direita. Mudar o mundo, para que o mundo seja melhor. E quem diz melhor, diz mais eficiente ao nível económico. Porque só a economia nos salvará. E depois o Dr. Jesus.