Uma visita guiada aos lugares de Leonor Teles
A ponte da Mizarela, situada sobre o rio Rabagão, é um lugar mágico, daqueles sítios onde ainda conseguimos recuar no tempo. Não admira que continue a ser visitada por mulheres grávidas, que perderam filhos antes do parto, e se agarram à lenda de que se este que trazem agora dentro de si for batizado ainda no seu ventre, virá ao mundo forte e saudável. O ritual, tão antigo quanto esta dor tão invisível aos olhos de quem teve a fortuna de não passou pelo mesmo, dita que a mãe espere a alvorada junto da ponte, pedindo à primeira pessoa que ali passe que a abençoe com esta água tida por sagrada, recitando um verso pré-estabelecido.
Eu te baptizo pelo poder de Deus
e da Virgem Maria!
Padre-Nosso e Avé-Maria!
Se fores meninha (menina)
Serás Senhorinha;
Se fores rapaz
Serás Gervás (Gervásio).
E o que é que é que tudo isto tem a ver com Leonor Teles? Estamos no ano de 1372, e a recentíssima rainha de Portugal está já grávida do rei D. Fernando, e sofre o “trauma” de ter perdido uma filha do primeiro casamento, que terá nascido morta ou morrido dias depois do nascimento, não se sabe. Andava por estas terras com o rei, depois do casamento de praça em Leça do Balio, e da assinatura de um tratado em Tagilde — terá resistido a passar por aqui?