As primeiras impressões não podiam ser melhores e até mais esperançosas, com manifestações de júbilo nas ruas de Israel e entre as ruínas da Faixa de Gaza. Apesar das diferenças, israelitas e palestinos saíram às ruas para celebrar o anúncio do fim dos combates, a libertação dos reféns e a possibilidade de dezenas de milhares de pessoas poderem regressar ao que resta das suas habitações – sem receio de bombardeamentos, de operações militares especiais ou de ataques terroristas. Mas depois da sensação de alívio, é preciso confrontar a realidade: até onde poderá ir esta oportunidade para a paz no conflito israelo-palestiniano?

Nos primeiros três dias que se seguiram ao anúncio do cessar-fogo, proclamado em direto por Donald Trump, mais de 500 mil palestinos regressaram à cidade de Gaza em ruínas. Com os seus telemóveis, partilharam imagens dos bairros destruídos, mas também registaram diversas situações de caos, com cenas de violência e de saques. Essa realidade demonstra, por si só, a fragilidade do processo de paz, assente num plano ambicioso – que Donald Trump quer mostrar ao mundo como uma grande conquista pessoal e, se possível, retirar também daí o máximo de dividendos. No entanto, para resultar é preciso que tudo flua sem grandes sobressaltos, ao contrário do que sucedeu nos cessar-fogos que se proclamaram em novembro de 2023 e em março de 2025 – em ambos os casos, depois das tréguas, a violência regressou ainda com mais força, com enorme sofrimento para as populações.
