Por mais “linhas vermelhas” ou “cordões sanitários” que a maioria da classe política alemã tenha vindo a estabelecer nos últimos anos, a ascensão da extrema-direita naquele país é, a cada dia que passa, uma realidade que se impõe. No último domingo, 1, pela primeira vez desde o final da II Guerra Mundial, um partido ultranacionalista, populista radical, conservador e eurocético foi o mais votado numas eleições e alcançou o maior número de mandatos num dos 16 parlamentos estaduais. Aconteceu no estado federado da Turíngia, no Leste do país, onde a Alternativa para a Alemanha (AfD) obteve 32,8% dos votos, no mesmo dia em que, na Saxónia, também na antiga RDA, atingiu os 30,6%, a escassos 1,3 pontos percentuais do vencedor, os democratas-cristãos da CDU.
Estes são dois dos estados mais pequenos da Alemanha. Juntos somam pouco mais de cinco milhões de habitantes. Mas os excelentes resultados da extrema-direita podem desencadear um terramoto político em Berlim, onde o governo federal liderado por Olaf Scholz, e apoiado por uma coligação entre sociais-democratas, verdes e liberais, atravessa o seu pior momento de popularidade. O executivo está, além disso, debilitado pelas constantes disputas internas e muito pressionado para tomar medidas drásticas na política migratória, depois de, no passado dia 23 de agosto, um atentado perpetrado por um refugiado sírio em Solingen, perto de Düsseldorf, ter provocado a morte a três pessoas e ferido outras cinco.