Também conhecido pela alcunha “Mark Zuckerberg russo”, Pavel Durov é o fundador da plataforma social Telegram e um dos homens mais ricos do mundo. Com nacionalidade russa e francesa, o bilionário foi detido detido no passado fim de semana em França pela, alegada, conivência da rede social em crimes como fraude, tráfico de droga, assédio cibernético, crime organizado e apologia do terrorismo. Mas quem é Pavel Durov, o bilionário com historial de oposição ao regime russo, detido em França?
Quem é Pavel Durov?
Natural da Rússia, Pavel Durov integra a lista das pessoas mais ricas do mundo. O empresário tecnológico, de 39 anos, é o fundador e proprietário do Telegram, uma das aplicações de mensagens mais descarregadas em todo o mundo. Mas a fama de Durov, nascido em São Petersburgo, é anterior à criação do Telegram – lançado em 2013. Em 2006, com apenas 22 anos, Durov e o irmão fundaram a rede social VKontakte, um app muito popular entre os utilizadores de língua russa e mais utilizado que o Facebook na Rússia e antigas regiões da União Soviética. Contudo, o empresário acabou por vender a plataforma social e deixar a Rússia, em 2014, após se recusar a entregar os dados pessoais dos utilizadores aos serviços de segurança russos e a encerrar grupos da oposição na rede.
Assumindo-se um libertário, Durov tem ao longo dos anos, defendido a confidencialidade dos utilizadores da Internet e a encriptação das mensagens. Em 2012, durante uma onda de protestos anti-Putin na Rússia, o empresário tornou-se um um herói da oposição liberal ao também recusar-se encerrar grupos na plataforma dedicados à organização de marchas de protesto.
Na sua despedida da empresa VKontakte, Durov publicou uma mensagem em que se lia: “Adeus e obrigado por todos os peixes”, numa clara referência ao romance de ficção científica “À Boleia pela Galáxia” de de Douglas Adams.
Em abril deste ano, Durov, em entrevista ao norte-americano Tucker Carlson, abordou a sua saída da Rússia referindo que “preferia ser livre a ter de receber ordens de alguém”. “As pessoas adoram a independência. Também adoram a privacidade, a liberdade, [há] muitas razões para alguém mudar para o Telegram”, explicou.
O bilionário acabou por se mudar para o Dubai e, em 2021, adquiriu a nacionalidade francesa. Em 2013, enquanto viajava com o irmão, Nikolai, acabou por desenvolver e lançar uma segunda aplicação social, sediada no Dubai, chamada Telegram, que apesar de muito popular, gerou também muita controvérsia. A app permite que qualquer pessoa possa seguir vídeos, fotografias e comentários de outros utilizadores em “canais”, ou grupos, sendo que os seus estão protegidos por encriptação. Face a críticas, Durov recusou sempre moderar as mensagens no Telegram, promovendo a rede como uma plataforma “livre”.
O Telegram tem vindo a tornar-se uma das aplicações mais populares do mundo – especialmente em países como a Rússia e a Ucrânia – apresentando-se como um defensor das liberdades individuais, protetor da confidencialidade e onde não existe espaço para a “censura” dos seus utilizadores. A sua popularidade, no entanto, levou a um aumento do controlo sobre a rede por parte do governo russo e, em 2018, a app acabou mesmo por ser bloqueada no país depois da empresa se ter recusado a cumprir uma ordem judicial para conceder ao Estado acesso às mensagens encriptadas dos seus utilizadores. O bloqueio espoletou protestos em Moscovo e, desde então, a Rússia abandonou os seus esforços para bloquear a plataforma sendo atualmente utilizada pelo governo russo e pela oposição.
“O Telegram está empenhado em proteger a privacidade dos utilizadores e os direitos humanos, como a liberdade de expressão e de reunião”, pode ler-se no site oficial da plataforma. “Tem desempenhado um papel proeminente nos movimentos pró-democracia em todo o mundo, incluindo no Irão, Rússia, Bielorrússia, Myanmar e Hong Kong”, continua.
Recentemente, a aplicação tornou-se uma das cinco mais descarregadas do mundo, tendo, em 2023, ultrapassado os 700 milhões de utilizadores mensais ativos. No entanto, a sua crescente popularidade levou a um maior escrutínio por parte de vários países da Europa, incluindo a França, devido a potenciais preocupações com a segurança e a violação de dados.
O Telegram também tem desempenhado um papel fundamental na guerra da Ucrânia, servindo como uma plataforma em que ambos os lados partilham vídeos dos combates.
Durov partilha também várias mensagens na própria rede social. O empresário tecnológico afirma levar uma vida solitária em que abstêm de comer carne, álcool e café. O franco-russo é também, alegadamente, um dador de esperma, gabando-se de ser o pai biológico de mais de 100 crianças de 12 países diferentes. Sempre vestido de preto, é conhecido por ser uma figura misteriosa e não dar entrevistas frequentemente. Segundo a norte-americana Forbes, estima-se que a fortuna de Durov alcance os 15,5 mil milhões de dólares, o que o torna na 120.ª pessoa mais rica do mundo.
Apesar da popularidade, o Telegram tem sido investigado pelas autoridades judiciais europeias por alegações de violações das normas de segurança e que culminaram na sua detenção.
Porque está detido?
Detido no fim de semana após a chegada a Paris, Pavel Durov deverá continuar em prisão preventiva até à próxima quarta-feira. O empresário foi alvo de um mandado de captura por alegadas infrações cometidas no Telegram e que vão desde a fraude ao tráfico de droga, ciber assédio e crime organizado. A plataforma é acusada de possuir uma moderação de conteúdos adequada e de falhas no controlo de atividades criminosas pelos utilizadores da plataforma. De acordo com a BBC, as autoridades francesas estão a investigar a forma como a plataforma social lida com mensagens de conteúdo relacionado com tráfico de droga, abuso sexual de menores e atividades fraudulentas.
Após a detenção de Durov, o presidente francês, Emmanuel Macron, falou ao país através de uma publicação da rede social X onde garantiu que a França está “mais do que tudo ligado à liberdade de expressão e de comunicação, à inovação e ao empreendedorismo”. “Num Estado de direito, nas redes sociais como na vida real, as liberdades são exercidas dentro de um quadro estabelecido pela lei para proteger os cidadãos e respeitar os seus direitos fundamentais. Cabe ao sistema judicial, com total independência, fazer cumprir a lei”, explicou Macron.
Após a sua detenção, foram organizados vários protestos de apoio ao empresário, com vários aviões de papel – o símbolo da app – a serem colocados perto da embaixada francesa, em Moscovo.
A plataforma Telegram já se pronunciou sobre a detenção de Durov, referindo que o fundador “não tem nada a esconder”. A rede considera um “absurdo” ser responsabilizada por abusos realizados na plataforma e realça o cumprimento da legislação europeia.