No centro dos debates da 32.ª cimeira da organização, que se realiza na cidade de Jidá, está também o próprio conflito sírio, iniciado em 2011 na sequência da violenta repressão que o regime de al-Assad impôs à população, que degenerou numa guerra que causou mais de 500.000 mortos e milhões de deslocados.
Num contexto regional de reaproximação diplomática, a Liga reintegrou o regime sírio a 07 deste mês. Três dias depois, a 10 de maio, o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, convidou o Presidente sírio a participar na cimeira anual que se realiza sexta-feira naquela cidade costeira, junto ao Mar Vermelho.
As capitais regionais têm vindo a aproximar-se gradualmente de al-Assad, que tem mantido o poder e recuperado o território perdido com o apoio crucial do Irão e da Rússia, embora grandes áreas do norte da Síria continuem fora do controlo do Governo.
Em abril, diplomatas de nove países árabes discutiram a crise síria na Arábia Saudita e cinco ministros dos Negócios Estrangeiros da região, incluindo o da Síria, reuniram-se na Jordânia no início deste mês.
Os Emirados Árabes Unidos, que restabeleceram os laços com a Síria em 2018, têm estado muito ativos na reintegração de Damasco na Liga.
A actividade diplomática foi retomada com maior profundidade após o mortífero sismo que atingiu a Síria e a Turquia em 06 de fevereiro.
Na semana passada, Riade, que cortou relações com o governo sírio em 2012, confirmou que as missões diplomáticas na Síria e na Arábia Saudita iriam retomar o trabalho.
Alguns países, porém, têm-se mostrado relutantes em renovar os laços com al-Assad, incluindo o Qatar, que se recusou a normalizar as relações com o Governo sírio, bem como o ocidente, uma vez que quer a União Europeia (UE) quer os Estados Unidos mostraram-se contra a reintegração de Damasco na cena política internacional.
Segunda-feira, o secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Aboul Gheit, defendeu que o regresso da Síria poderá reavivar “o princípio da solidariedade árabe”, mas salientou que a “atmosfera positiva” gerada pelo fim de alguns diferendos “não deve distrair da realidade a que a região árabe tem vindo a assistir há anos, nomeadamente a acumulação e sucessão de graves desafios”.
Entre eles estão as consequências provocadas pela guerra no Sudão, que está a desencadear uma nova onda de migração, que já provocou a fuga de cerca de 200 mil pessoas e a deslocação de centenas de milhares de outras. O conflito é, assim, um dos principais tópicos de discussão na cimeira de sexta-feira.
O general Abdel Fattah al-Burhane, chefe do exército sudanês e um dos dois beligerantes no centro do conflito, foi convidado para a cimeira de chefes de Estado da Liga Árabe, mas não esclareceu quem irá representar o Sudão na reunião.
Representantes de al-Burhane e do seu opositor, o general Mohamed Hamdane Daglo, das Forças de Apoio Rápido (RSF), encontram-se em Jidá há mais de uma semana para conversações mediadas pela Arábia Saudita e pelos Estados Unidos.
A cimeira tem também agendada a discussão de questões associadas ao desenvolvimento económico, com apelos ao investimento entre os países árabes e à necessidade de garantir a segurança alimentar.
A Liga Árabe, nome corrente para a Liga de Estados Árabes é uma organização de estados árabes fundada em 1945 no Cairo por sete países, Arábia Saudita, Egito, o então emirado da Transjordânia (atual Jordânia), Iémen, Iraque, Líbano e Síria, com o objetivo de reforçar e coordenar os laços económicos, sociais, políticos e culturais entre os seus membros, assim como mediar disputas entre estes.
Atualmente, a Liga Árabe é integrada por 22 países: Arábia Saudita, Argélia, Bahrein, Comores, Djibuti, Egito, Emirados Árabes Unidos, Iémen, Iraque, Jordânia, Kuwait, Líbano, Líbia, Marrocos, Mauritânia, Omã, Palestina, Qatar, Síria, Somália, Sudão e Tunísia.
JSD // APN