Porque foi indiciado?
Na quinta-feira, o New York Times foi o primeiro a anunciar Trump foi indiciado, colocando termo a uma longa investigação do gabinete do procurador distrital de Manhattan, em Nova Iorque, de mais de cinco anos. Por enquanto, ainda não se conhece o seu conteúdo específico, mas deverá ser anunciado oficialmente nos próximos dias. O ex-presidente dos Estados Unidos é suspeito de pagar 130 mil dólares (121 mil euros) a Stormy Daniels, uma antiga atriz de filmes pornográficos, para a silenciar sobre um alegado encontro sexual que tiveram em 2006. O pagamento foi feito em outubro de 2016, pouco antes das eleições à presidência, e foi orquestrado por Michael Cohen, advogado de Trump na época. De acordo com o procurador Alvin Bragg, Trump terá falsificado as contas da sua empresa, encobrindo o pagamento feito a Daniels, tratado como honorários devidos a Cohen.
Qual é a acusação?
Michael Cohen já tinha sido condenado a três anos de prisão por crimes fiscais e fraude bancária relacionados com o pagamento a Daniels, supostamente feitos em nome de Trump. O dinheiro dos cheques mensais, de 35 mil dólares, vinha da conta bancária pessoal do advogado que, entretanto, se incompatibilizou com Trump. Chegou até a descrevê-lo como uma espécie de chefe da máfia. Na audição perante o Congresso norte-americano afirmou: “Tenho vergonha de ter participado na ocultação dos atos ilícitos do sr. Trump, em vez de prestar atenção à minha própria consciência. Tenho vergonha, porque sei o que o sr. Trump é. É um racista. É um vigarista. É um batoteiro.” No processo de 2018, liderado pelo Departamento de Justiça dos EUA, a nível federal, Cohen declarou-se culpado das acusações. O reembolso da quantia paga a Daniels foi feito numa altura em que Trump era já Presidente dos Estados Unidos, tendo sido descrito como honorários, por serviços legais que não foram prestados. Os procuradores do caso de Manhattan sustentam que a maneira como Trump lidou com o reembolso violou a lei estadual.
Quais foram os argumentos da defesa de Trump?
Trump nega ter cometido qualquer irregularidade em relação às acusações que lhe foram feitas, seja por atividade criminosa ou por danos civis. E define as investigações como uma “caça às bruxas política”. Nega ainda ter tido um caso com Daniels, mas já admitiu o pagamento a Cohen, alegando ter sido vítima de extorsão. A sua defesa chegou a reunir-se com os promotores de Manhattan, para evitar a acusação. Outra advogada de Trump, Susan Necheles, argumentou que os pagamentos feitos a Daniels não teriam qualquer relação com a campanha presidencial.
O que deverá acontecer a seguir?
Trump deverá comparecer perante o tribunal na próxima terça-feira, para ser formalmente acusado, a sua defesa deverá entrar com um recurso e serão agendados os próximos passos do processo. Os seus advogados irão lutar contra as acusações, apresentando moções para excluir provas e testemunhas prejudiciais à defesa. É difícil saber quanto tempo demorarão estes procedimentos, mas o mais certo é que decorram alguns anos até Trump chegar a julgamento.
Quais são as outras investigações enfrentadas por Trump?
A lista é considerável. Desde logo, está a ser investigada pelo Departamento de Justiça a tentativa de subversão eleitoral de Trump e sua incitação à invasão do Capitólio, a 6 de janeiro de 2021. O relatório da Comissão do congresso dos Estados Unidos que investigou o ataque concluiu que Donald Trump “acendeu o rastilho” e já tinha recomendado que o Departamento de Justiça dos EUA investigasse Trump pelos crimes de incitação à insurreição, obstrução de um processo oficial do Congresso, tentativa de fraude contra os Estados Unidos, e conspiração para submeter falsos testemunhos eleitorais ao Congresso e aos Arquivos Nacionais.
Decorre ainda uma investigação criminal sobre a retenção de documentos confidenciais por Trump na sua propriedade em Mar-a-Lago, na Florida. Os procuradores federais estão a analisar se o ex-presidente reteve intencionalmente informações sob segurança nacional e incorreu numa obstrução à Justiça.
Na Geórgia está também a ser investigada uma suposta tentativa de interferência eleitoral. O procurador do condado de Fulton, Fani Willis, solicitou um grande júri e este recomendou o indiciamento de algumas pessoas. Embora haja fortes suspeitas, não se sabe se Trump está incluído na lista.
Trump enfrenta igualmente um julgamento por difamação decorrente de uma alegação de violação feita pela escritora e colunista E. Jean Carroll, supostamente ocorrida em meados da década de 1990, e negada pelo ex-presidente. Após a denúncia, feita, em 2019, este repetiu que não conhecia a acusadora e que não podia tê-la violado porque não era o seu “tipo de mulher”.
Esta acusação poderá pôr em risco a candidatura de Trump às presidenciais de 2024?
Os apoiantes mais extremados de Trump não valorizarão a acusação. Os analistas defendem que o político norte-americano procurará tirar proveito da situação e fará, mais uma vez, o papel de vítima. Mas também acreditam que a maioria dos eleitores republicanos não vai querer alguém que tenha pendente uma acusação criminal a ocupar a Sala Oval.