Foi em junho de 2020 que o Fórum Económico Mundial (WEF, em inglês) apresentou o The Great Reset, um plano de recuperação económica para a era pós-Covid. Assente em pilares como a educação e a saúde, a iniciativa dizia que “precisamos de uma ‘Grande Reinicialização’ do capitalismo”. A direita anticonfinamento não se fez esperar e saiu à rua, afirmando que o projeto está a usar o contexto de pandemia para forçar a implementação de políticas radicais e o estabelecimento do marxismo. Surge assim mais uma teoria da conspiração ligada à Covid-19.
“A agenda do The Great Reset teria três componentes principais”, começa por explicar o projeto. O primeiro “direcionaria o mercado para resultados mais justos”; o segundo “garantiria que os investimentos promovessem metas compartilhadas, como igualdade e sustentabilidade”; e o terceiro teria como objetivo “aproveitar as inovações da Quarta Revolução Industrial para apoiar o bem público, especialmente abordando os desafios sociais e de saúde”.
A apresentação ficou a cargo do príncipe de Gales, Charles, e do diretor do WEF, Klaus Schwab. Apesar de no início ter passado despercebido devido à grande mediatização dos acontecimentos ligados ao movimento Black Lives Matter, o projeto ganha agora um novo protagonismo.
Vacinas obrigatórias, cartões de identificação digitais e renúncia à propriedade privada são algumas das afirmações infundadas dos protestantes em Londres em relação ao novo plano económico. Num recente protesto anticonfinamento na capital inglesa, milhares de pessoas carregavam cartazes com ligações ao The Great Reset. “Mal sabiam eles! A pandemia é uma farsa!”, gritavam alguns dos manifestantes.
Um vídeo do presidente canadiano foi o gatilho para as teorias da conspiração. Nele, Justin Trudeau afirmava que a pandemia proporcionava uma oportunidade para um reset e rapidamente se tornou viral dentro e fora do país. Os conspiradores aproveitaram a deixa para defender a posição de que “os líderes globais estão a usar a pandemia para introduzir uma série de políticas socialistas e ambientais prejudiciais”, refere a BBC. “Acho que estamos num momento de ansiedade em que as pessoas procuram motivos para as coisas que estão a acontecer com elas. Estamos a ver que muitas das pessoas são vítimas da desinformação”, respondeu o político canadiano às alegações.
Segundo os defensores desta teoria, instaurar uma Nova Ordem Mundial é o objetivo principal dos líderes políticos. A conspiração foi ganhando cada vez mais apoiantes graças às acusações de figuras públicas, como comentadores televisivos, que utilizaram os seus meios para propagar fake news. Pauline Hanson, do partido australiano One Nation, por exemplo, disse que os líderes querem estabelecer uma “visão marxista de esquerda socialista no mundo”. James Delingpole, jornalista inglês, descreveu o projeto como um “plano de aquisição comunista global”.
Sobre esta tese defendida pela direita anti-confinamento, Quinn Slobodian, professor de História da Universidade de Wellesley, no Massachusetts, não tem dúvidas: “É um absurdo e provavelmente tornar-se-á um alvo principal para os muitos novos centros de pesquisa e iniciativas que estudam a desinformação”, explica ao The Guardian. “Não é surpreendente que o WEF tenha inspirado uma conspiração sobre as elites. A organização é mais conhecida pelo seu encontro anual em Davos, na Suíça, onde altos executivos corporativos chegam em frotas de jatos particulares para falar da mudança climática da boca para fora”, conclui.