Assinala-se esta quarta-feira, 15 de janeiro, precisamente 10 meses desde que o ciclone Idai devastou a região central de Moçambique, naquele que é considerado o maior desastre natural da história do país. Um relatório da Organização Internacional para as Migrações, consultado pela VISÃO, revela que há 191 abrigos que foram totalmente destruídos pelas chuvas torrenciais que entre 30 de dezembro de 2019 e 5 de janeiro de 2020 atingiram novamente aquela região. Há mais de 300 famílias afetadas.
A destruição de latrinas é particularmente preocupante numa altura em que o acesso a fontes de água potável continua a ser difícil, e que todas as contaminações de cursos de água dificulta e potencia o aparecimento de doenças transmissíveis.
Numa altura em que quase 90 mil pessoas ainda estão em campos de reassentamento, que se espalham pelas diversas províncias da região, os números vêm agravar a situação de carência em que muitas delas continuam a vier, quase um ano depois de terem sido arrancadas das suas comunidades, e de terem que lidar com perdas humanas e materiais praticamente incalculáveis até agora.
Apesar dos esforços significativos das mais de uma centena de organizações humanitárias que se encontram no terreno desde essa altura, a verdade é que tem sido difícil conseguir melhorar a vida de populações que já antes da catástrofe viviam, muitas, em situação limite. Em declarações recentes à VISÃO, o diretor de operações da Oikos Portugal recordava que “estamos a falar de um país com grandes vulnerabilidades e grandes problemas estruturais. Os riscos são grandes quando acontecem eventos desta dimensão”, afirmava a propósito do Idai.
O facto de as reconstruções nunca acontecerem na velocidade que seria desejável, sobretudo em países com esta falta de resiliência, é que ficam muito mais vulneráveis àquilo que são as dificuldades climáticas habituais, como a época de chuvas que ainda agora começou e que já está a provocar estragos significativos.
Recorde-se que há ainda 66 campos de reassentamento a funcionar na região, e que desses, mais de 20 já estão em auto-gestão, o que significa que já não estarão a receber ajuda humanitária, numa altura em que várias organizações humanitárias começam a abandonar o terreno, uma vez que chegou ao fim a fase de emergência.
No entanto, é precisamente agora que aumentam as necessidades, numa medida quase inversamente proporcional àquilo que são os donativos de que sobrevivem a grande maioria das ONG que operam naquela antiga colónia portuguesa. “Naturalmente existe mais generosidade quando se fala de financiamento privado numa fase de emergência. […] Quando já não continuamos a ver daquela forma, torna-se mais difícil. Até porque nesta fase os processos já são mais lentos, existem outros mecanismos de financiamento, e nem sempre é com a dimensão que as pessoas necessitam, nem com a agilidade que é necessária”, recordava Ricardo Domingos.
Por outro lado, e porque nem tudo são más notícias, depois de amanhã, a 17 de janeiro, a Cruz Vermelha Portuguesa vai inaugurar o Complexo de Saúde do Macurungo, que se espera que dê apoio a milhares de pessoas, e que foi totalmente reconstruído e ampliado graças às doações feitas desde março do ano passado.