A modelo chinesa Li Jingwen, de 25 anos, participou numa campanha da Zara e o seu rosto cheio de sardas sobressaiu. Contudo, a China não gostou da evidência destas manchas, que já são imagem de marca da modelo, e, nas redes sociais, não tardaram os ataques ferozes às imagens divulgadas, com o surgimento da hashtag “Insult to China”.
Neste país, as sardas são uma raridade e beleza é sinónimo de pele branca e suave, sem quaisquer marcas. “Porque é que rostos com sardas são associados à alta costura?”, perguntou um utilizador que não gostou da imagem da modelo.
Houve até quem acusasse a marca espanhola de querer impor os padrões de beleza do Ocidente às mulheres chinesas. “Se estas mulheres são denominadas as mais bonitas da Ásia, isto parece ser discriminação para todas as outras”, desabafa outro utilizador.
Contudo, também houve quem defendesse Jingwen, referindo que toda esta onda de indignação era uma maldade para a modelo do seu próprio povo e que não era a Zara que estava a discriminar as mulheres asiáticas, mas sim as pessoas que estavam a discriminar pessoas com sardas.
Ao The New York Times, Jia Tan, professora de estudos culturais da Universidade Chinesa de Hong Kong, na China, referiu que “existe uma grande tradição que classifica a beleza das mulheres de acordo com a sua aproximação à beleza branca” que, muitas vezes, chega ao patamar do racismo. Contudo, a professora diz que esta reação na internet “caiu na retórica do nacionalismo e do patriotismo”.
Ma Heqi tem 24 anos e é de Dalian, cidade no nordeste da China, e contou ao The New York Times que tentou remover as suas sardas com laserterapia. A jovem refere que estas manchas, conhecidas por marcas de pardal no país, ainda são “bastante desagradáveis” para ela, mesmo já não vivendo na China.
No China Daily, um jornal oficial em inglês, um artigo de opinião acusou os utilizadores críticos das imagens da Zara de “excesso de sensibilidade e falta de confiança cultural”.
Já Yang Xinyu escreveu, no jornal China Youth Daily, que, “enquanto algumas pessoas podem ver a beleza distintiva de Li Jingwen”, outras veem as imagens como um insulto à China. “Este contraste pede uma revisão aos nossos ideais estéticos”, refere.
A modelo, que ainda não comentou a polémica, já trabalhou para marcas de luxo como a Chanel, a Prada e a Calvin Klein e foi capa da Vogue tanto na China como na Itália.
Numa entrevista à Vogue, em 2016, Jingwen contou que, quando era mais nova, odiava as suas sardas já que, normalmente, “os asiáticos não as têm”. Contudo, a modelo disse, também, que agora gostava delas e que isso era suficiente.