Foram descobertos micróbios na parte mais seca do deserto de Atacama, na América do Sul, que estavam adormecidos no solo. Devido à ausência de água, entraram numa espécie de coma profundo que durou décadas, até as chuvas fortes recentes os terem acordado de novo.
O mesmo princípio, segundo os cientistas, pode ser aplicável em Marte, o que os leva a ponderar na hipótese de formas de vida básicas semelhantes às encontradas estarem escondidas na superfície do planeta vermelho.
“A nossa pesquisa diz-nos que se a vida consegue perseverar no ambiente mais seco da Terra, existe uma boa hipótese de poder estar a aguentar-se em Marte, de uma forma semelhante”, diz Dirk Schulze-Makuch, cientista da Washington State University, nos EUA, e coautor do estudo, publicado no jornal Proceedings of the National Academy of Sciences.
Os investigadores recolheram amostras do solo de seis zonas diferentes do deserto de Atacama, o deserto mais seco do mundo, entre 2015 e 2017.
As análises feitas a essas amostras comprovaram a existência de bactérias nativas da zona, que tinham estado adormecidas até então. Tal só foi possível graças a um evento extremamente improvável que aconteceu no primeiro ano do estudo – choveu.
A chuva fez com que as bactérias voltassem à vida e, inclusivamente, começassem a reproduzir-se.
Novas viagens realizadas ao deserto entre 2016 e 2017 vieram ainda comprovar que, conforme a zona regressava ao seu estado natural de seca, as bactérias reanimadas pela água voltavam a entrar num estado de dormência.
Já tinham sido encontradas bactérias no deserto anteriormente, mas não ficou claro se se tratava de “residentes originais” da zona ou de vestígios de outras formas de vida levadas até ali pelo vento.
Mas como se relaciona esta descoberta com a possibilidade de vida em Marte? Schulze-Makuch explica: “Sabemos que existe água congelada no solo marciano e pesquisas recentes sugerem fortemente que existam nevões noturnos e outros eventos relacionados ao aumento de humidade perto da superfície”, diz.
“Se a vida alguma vez evoluiu em Marte, a nossa investigação sugere que possa ter encontrado um nicho subsuperficial por baixo da atual superfície hiperácida”.
Schulze-Makuch afirma ter já planeada uma nova viagem ao deserto de Atacama, para perceber como as formas de vida nativas se readaptaram à secura do território.
“Faltam poucos lugares na Terra onde procurar por novas formas de vida que sobrevivem no tipo de ambientes encontrados em Marte. O nosso objetivo é perceber como são capazes de o fazer, para sabermos o que procurar na superfície marciana”, remata o cientista.