Na quinta-feira perguntaram a Vladimir Putin se era possível uma mulher tornar-se presidente da Rússia. “No nosso país, tudo é possível.” Não é a resposta mais edificante para o sexo feminino, mas a mulher que Putin tinha na cabeça quando respondeu não acredita, ela própria, nessa possibilidade. “Não tenho peso político nem ganhei o direito a lançar um programa político ou a destacar-me como candidata”, admitiu Ksenia Sobchak ao jornal britânico The Guardian.
Frase pouco confiante para uma candidata presidencial, mesmo sabendo que concorre contra o invencível Putin, nas eleições presidenciais em março do próximo ano.
Ksenia, 35 anos, é filha do milionário Anatoli Sochak, um antigo presidente da câmara de São Petersburgo – que, nessa condição, foi também patrão de Vladimir Putin, nos anos 90, quando este liderava o Comité das Relações Exteriores.
Há cinco anos, depois de uma carreira na televisão como apresentadora de programas de música e reality shows, além de usar o estatuto de celebridade para vender a sua linha de roupa, a socialite começou a interessar-se por política, apanhando a onda de Alexei Navalny, o maior opositor de Putin. Ksenia Sobchak diz, aliás, que se candidata em nome de Navalny, garantindo que se afasta se a este lhe for permitido concorrer. Coisa que certamente não acontecerá. Navalny, que se encontra, neste momento, a cumprir nova pena (de 20 dias) por organizar manifestações não autorizadas, foi condenado por fraude, num processo que observadores consideram político, e está impedido de se candidatar.
A principal figura da oposição a Putin dos últimos anos, entretanto, comentou a candidatura de Ksenia, ainda antes de ser oficial. E não se pode dizer que a tenha apoiado. Navalny chamou-lhe um “motivo de chacota”, uma celebridade que anda à pesca de “gostos” nas redes sociais, e uma “caricatura” que serve apenas para dar a ilusão de legitimidade a uma eleição que considera ser uma farsa.
Alguns analistas consideram que a prova do beneplácito do Kremlin virá na forma de assinaturas: Ksenia Sobchak terá de recolher trezentas mil, coisa que não será fácil sem o apoio de um grande partido. A oposição aposta que será a própria máquina de Putin (que ainda não confirmou ser candidato, embora não haja grandes dúvidas sobre isso) a ajudá-la a recolher as assinaturas. Por agora, o único sinal de que o atual presidente está satisfeito com a anunciada adversária veio do porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, que louvou a sua candidatura.
Alheia às acusações e aos rumores, a celebridade garante que é para ser levada a sério. “Sou a cara das pessoas que não se podem candidatar. Sou contra uma revolução, mas sou uma boa intermediária e organizadora.” E até foi ela própria a anunciar a sua intenção a Putin, durante uma entrevista que lhe fez para um documentário. “Achei que era adequado dizer-lhe na cara que pretendo enfrentá-lo”, disse. Mas nada de pessoal a move contra ele, acrescentou – Putin merece-lhe respeito como pessoa devido à relação que tinha com o pai dela. “Mas acho que ele levou o país para uma situação absurda e de declínio.”