O plano começou a ser pensado e ensaiado na década de 60, ainda a rainha de Inglaterra não tinha feito 50 anos. E, duas a três vezes por ano, as pessoas envolvidas diretamente reúnem-se para atualizá-lo. Segundo o Guardian, juntam-se responsáveis de uma dúzia de departamentos governamentais, da polícia, do exército, de canais de televisão e rádio, e dos parques reais, e são muito metódicos a tomar as decisões. “O mundo vai estar à espera que façamos novamente tudo perfeito”, disse um dos participantes ao repórter do jornal. “E nós vamos fazer.”
Mesmo sabendo que a Rainha Mãe morreu centenária, agora que estamos a pouco mais de um mês de Isabel II fazer 91 anos (nasceu a 21 de abril de 1926), o plano tornou-se mais urgente. Para começar pelo princípio (ou pelo fim…) estão equacionados vários cenários, mas a maioria dos envolvidos acredita que a monarca morrerá após um período curto de doença. Se for esse o caso, o médico responsável será o gastroenterologista Huw Thomas e o Palácio de Buckingham dará as notícias que ele entender.
O primeiro a saber da morte da rainha, depois do médico, do filho, Carlos, e dos netos, é Sir Christopher Geidt, o seu secretário particular. E será ele a contactar a primeiro-ministra, através de uma linha segura, com a frase “London Bridge is down” (a ponte de Londres caiu). A notícia será, então, dada aos quinze governos fora do Reino Unido onde Isabel II também é chefe de Estado, e às 36 nações que fazem parte da Commonwealth.
Bandeiras da praia a meia-haste
Só depois disso a morte da rainha será conhecida dos comuns dos mortais, através das agências noticiosas. Um funcionário do Palácio de Buckingham afixará nos portões uma nota dando conta do sucedido. E os meios de comunicação irão começar a trabalhar sobre o acontecimento.
No The Guardian, o editor tem uma série de artigos prontos já pregados na parede; na Sky News, ver-se-á se valeram a pena os ensaios feitos sob o nome de “Mrs Robinson” e contactam-se os especialistas contratados com antecedência; nas televisões e rádios, será suspensa toda a programação habitual.
No plano, tão secreto que todos só aceitaram falar sob anonimato com o repórter do jornal britânico, o dia da morte de Isabel II é conhecido como o “D-Day”, os seguintes nove “D+1” e por aí fora até ao “D+9”, dia do funeral. É preciso tempo para todas as cerimónias, sendo que menos de 24 horas depois da morte da rainha o seu filho Carlos será aclamado rei. Até à sua aclamação, às onze horas da manhã do “D+1”, as bandeiras estarão a meia haste, incluindo as da praia (com exceção das vermelhas).
No caso de a monarca morrer fora do País, o seu corpo será transportado num avião da Força Aérea, que levará a bordo um caixão da casa funerária Leverton & Sons. Se for em Sandringham, irá de carro para Londres. E se for em Balmoral, será utilizado o comboio real, esperando-se que em todas as estações e apeadeiros haja pessoas a atirar flores à sua passagem.
Quando o corpo estiver finalmente em Westminster Hall para ser velado, espera-se meio milhão de pessoas. Mas como as vozes contra a monarquia são muitas, também se espera que os livros de condolências tenham folhas soltas para o caso de ser preciso “apagar” alguma mensagem inapropriada.
No “D+9”, o Big Ben tocará às 9 da manhã, mas logo a seguir o seu badalo será coberto com cabedal, tocando abafado. Às onze horas, a expetativa é a de que o país esteja em silêncio absoluto. O The Guardian lembra que, em 1952, em homenagem a George VI, todos os passageiros de um voo entre Londres e Nova Iorque levantaram-se dos seus lugares, sob os céus do Canadá, e inclinaram a cabeça.