Um total de 1563 militares foram detidos durante a madrugada deste sábado na Turquia, por ligações à tentativa de golpe de Estado que causou 194 mortos e mais de mil feridos.
A iniciativa para destituir o Governo partiu de um grupo de soldados rebeldes, que no início do golpe posto em marcha atacaram um edifício de uma unidade de elite policial que causou a morte a pelo menos 17 agentes. No total, morreram 43 elementos das forças de segurança leais ao regime e 104 militares rebeldes, além de 47 civis.
Também há informações sobre tiroteios e explosões em Istambul e de bombardeamentos do edifício do parlamento e das imediações do palácio presidencial, em Ancara.
Por outro lado, um grupo de militares golpistas atacou, utilizando um helicóptero, um hotel em Marmaris, estância turística na costa do Mar Egeu, pouco depois de o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que estava ali hospedado de férias, ter abandonado o local. Quatro polícias ficaram feridos, e um acabou por morrer a caminho do hospital, segundo a CNNTurk.
O Governo e os serviços secretos dão há horas a tentativa de golpe como fracassada, embora admitindo que permanecem bolsas de resistência.
O primeiro-ministro, Binali Yildirim, anunciou entretanto a nomeação de um novo chefe das Forças Armadas interino, Ümit Dündar, para substituir o general Hulusi Akar, que as autoridades turcas pensam ter sido feito refém pelos golpistas.
Em declarações à televisão CNNTürk, Yildirim disse que à frente do golpe estiveram cerca de 40 comandantes militares, incluindo um general que morreu no decurso da tentativa de golpe.
Já o Presidente da Turquia, o islamita Recep Tayyip Erdogan, afirmou que a tentativa de golpe de Estado é como um “presente de Deus” que permitirá “limpar” o Exército.
“Este levantamento, este movimento é um grande presente de Deus para nós, porque o exército será limpo”, disse, em conferência de imprensa, pouco depois de aterrar em Istambul, assegurando que os golpistas vão pagar caro pela sua “traição”.
O Presidente turco culpou pelo golpe de Estado os apoiantes do seu arqui-inimigo, Fethullah Gülen, um imã exilado há anos nos Estados Unidos. O movimento que apoia Gülen (Hizmet) já condenou o golpe, num comunicado em que sublinha que “há mais de 40 anos que Fethullah Gulen e o Hizmet têm defendido e demonstraram o seu compromisso com a paz e a democracia”.
O fundador do poderoso Movimento Gülen, com milhões de seguidores na Turquia, entrou em rutura, em 2013, com Erdogan e o seu Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP, no poder desde 2002), que apoiou na fase inicial da sua ascensão.
Seguiu-se uma dramática luta pelo poder e o início da repressão ao Hizmet no país – acusado por Erdogan de pretender construir um “Estado paralelo” – através do encerramento de dezenas de escolas e processos judiciais contra figuras políticas e militares associadas a este movimento.
“O que está a ser perpetrado é traição e rebelião. Eles vão pagar um preço elevado por este ato de traição”, frisou Erdogan.
O chefe de Estado turco disse ainda que o hotel onde estava de férias, em Marmaris, estância turística na costa do Mar Egeu, foi bombardeado esta madrugada pouco depois de ter saído do edifício.
Apesar disso, Erdogan manteve o tom desafiador: “Não vamos deixar o nosso país para os ocupantes.”
Aos jornalistas, no aeroporto, onde foi recebido e saudado por uma multidão, o Presidente turco disse ainda desconhecer o paradeiro do chefe de Estado-maior, o qual terá sido feito refém dos golpistas em Ancara, no seu quartel-general, segundo os meios de comunicação social.
“Há na Turquia um Governo e um presidente eleitos pelo povo, que estão no poder, e, se Deus quiser, vamos superar esta provação”, afirmou, antes de felicitar os turcos por terem saído “aos milhões” para as ruas para defender a nação.
“Aqueles que apareceram com os tanques serão capturados porque esses tanques não lhes pertencem”, acrescentou.