Um melindroso caso político conseguiu que no Reino Unido se falasse de outro assunto que não o referendo sobre a permanência ou saída da União Europeia. Esta segunda-feira, 25, uma maioria governamental do Partido Conservador conseguiu reprovar no Parlamento uma proposta de emenda à Lei da Imigração que permitiria acolher na Grã-Bretanha três mil crianças sírias que se encontram desacompanhadas em campos de refugiados na Europa. Mas o resultado foi apertado: 294 votos contra e 276 a favor. E a proposta, com outro formato e o mesmo objetivo, há de voltar à Câmara dos Comuns.
Estima-se que pelo menos 95 mil crianças refugiadas e desacompanhadas tenham pedido asilo na Europa em 2015. Em janeiro último, a Europol avisou que dez mil menores desapareceram após chegarem à Europa, alertando para que muitos deles possam ter sido adotados por gangues de criminosos.
Foram dados como estes que dividiram a bancada conservadora britânica e fizeram com que alguns dos seus deputados votassem a favor da proposta de emenda e do acolhimento das crianças sírias. Significativamente, a proposta chegou da Câmara Alta tendo como primeiro subscritor o Lorde Alf Dubs, ele próprio resgatado, aos seis anos, de Praga, em 1938, por um programa britânico de salvação de crianças judias do genocídio perpetrado pelos nazis, na II Guerra Mundial.
O ministro do Interior, James Brokenshire, desdobrou-se em contactos com os parlamentares do Partido Conservador, argumentando que a proposta de emenda traz o risco de “criar uma situação em que as crianças são enviadas sozinhas pelas suas famílias, através de traficantes, que vão pôr as suas vidas em risco nas perigosas travessias marítimas” – incorrendo o resultado em tragédias. Também invocou os custos financeiros da proposta. Ganhou, mas por pouco.
Do outro lado da barricada estão os trabalhistas, o Partido Nacional Escocês e os democratas liberais. E o Lorde Alf Dubs e quem o acompanha vão voltar à carga. Na nova proposta de acolhimento de crianças sírias refugiadas e desacompanhadas, não se refere o número de menores a receber, deixando essa decisão para o Governo, após consultas com as autoridades locais do Reino Unido. A luta continua, pois.