O papa Francisco anunciou este domingo a elevação 15 novos cardeais eleitores, entre os quais Manuel Clemente, o patriarca de Lisboa, e de outros cinco não-eleitores, representando alguns países que nunca tiveram cardeal.
O papa destacou que os novos cardeais são “procedentes de 14 nações de todos os continentes” e que “representam o vínculo inseparável entre a Igreja de Roma e as Igrejas particulares presentes no mundo”.
A escolha do patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, para cardeal, não surpreendeu os três teólogos ouvidos pela agência Lusa que referem ser habitual os arcebispos passarem a cardeais.
Anselmo Borges, padre e professor de Filosofia da Universiadde de Coimbra, defendeu que, “por ser cardeal-patriarca de Lisboa, está no centro do poder” e agora “espera-se que tenha mais responsabilidades em relação ao poder político no sentido de chamar a atençao para uma política mais voltada para justiça social e para o bem comum, denunciando a corrução, a cumplicidade entre os poderes políticos e os poderes económicos”.
No entanto, realçou, “para ser crítico em relação à política ele precisa de lutar com os outros bispos por uma Igreja em Portugal mais livre, mais independente ela própria dos poderes económicos e políticos”.
Quanto à decisão do papa Francisco na seleção dos cardeais, “há várias coisas de novo, só há um cardeal da Cúria e, para alguns inesperadamente, são feitos cardeais” outros, disse Anselmo Borges.
O papa Francisco tem dito que queria “uma Igreja pobre para os pobres, portanto foi, desta vez, às periferias, a países com estados periféricos do ponto de vista católico, com um número de católicos que não é grande, para chamar atenção de que quer uma Igreja, de facto pobre, para os pobres”, apontou Anselmo Borges.
Por outro lado, o pontífice “quer uma Igreja verdadeiramente descentralizada, que não pode estar apenas centrada na Europa”, já que “se a Igreja é uma realidade global, então deve estar representada no conselho, uma vez que os cardeais são conselheiros do papa”, e na eleição do próximo papa, disse ainda o professor de Filosofia.
E realçou o facto de existirem entre estes cardeais pelo menos três da Ásia, região que tem tido a atenção do papa, segundo Anselmo Borges, “com os olhos postos na China”.
Também para o missionário Fernando Ventura, “aquilo que o papa está a fazer é dar representatividade maior ou dar maior número de assentos no conclave às zonas geográficas onde a Igreja católica está em crescimento”.
No mesmo sentido vai o comentário do teólogo de Carreira das Neves que referiu ter o papa Francisco “uma vocação mais universal, menos eurocentrista e a Igreja da Europa está muito adormecida e envelhecida”.
Quanto às nomeações dos cardeais de Cabo Verde e Moçambique, Carreira das Neves realçou a percentagem de católicos existentes nestes países, vertente igualmente referida por Fernando Ventura para quem reforçar a presença de África no conclave “tem todo o sentido”.
Fernando Ventura disse ter ficado “surpreendido com o nome de [Júlio] Duarte Langa [de Moçambique], mas não espantado”. ou seja, “esperava que fosse o atual arcebispo de Maputo a ser feito cardeal”, pois habitualmente é o bispo titular da arquidiocese que é escolhido.
No entanto, “Duarte Langa vai fazer um trabalho excelente, como faria naturalmente Francisco Chimoio”, o atual arcebispo de Maputo.