“Os últimos anos têm sido muito difíceis na apicultura. Têm sido anos de baixas produções apícolas em Trás-os-Montes e, em concreto, em Vila Pouca de Aguiar”, afirmou hoje à agência Lusa o presidente da câmara, Alberto Machado.
O autarca e também apicultor apontou o dedo às alterações climáticas e explicou que a abelha é um inseto e que, como tal, é muito afetado pelas condições meteorológicas.
“Por exemplo, se houver muito calor a floração aguenta-se muito menos tempo. E num ano muito seco essa floração tem um período muito mais reduzido, o que quer dizer que as abelhas têm menos tempo para se alimentaram e produzirem o mel”, explicou.
Este ano acresce ainda o problema dos incêndios recentes que afetaram este concelho do distrito de Vila Real.
Segundo dados da Associação Florestal e Ambiental de Vila Pouca de Aguiar (Aguiarfloresta), o fogo queimou 112 colmeias, mas no total foram afetadas 1.728 colmeias nas freguesias de Tresminas, Alfarela e Vreia de Jales.
A maior parte dos 93 produtores de mel registados em Vila Pouca de Aguiar concilia a atividade profissional com a apicultura, que se tornou num complemento à economia familiar deste concelho. Neste município há 238 apiários e 5.273 colónias.
Em algumas destas colmeias já tinha sido retirado o mel, mas verifica-se, segundo Duarte Marques, da Aguiarfloresta, “uma perda da capacidade produtiva futura”.
“É um prejuízo que vem agravar a situação difícil das produções apícolas. Sentimos que há uma sequência de anos maus em termos de produção”, referiu.
Luís Rodrigues tem 250 colmeias e disse à Lusa que este ano a produção “é muito fraca”, apontando para uma quebra a rondar os “70 a 80% em relação à média de produção”.
“Ainda não tirámos tudo, mas é mais um ano muito fraco. As alterações climáticas estão a complicar a vida às abelhas. As abelhas são os bichinhos que mais sentem o efeito das alterações climáticas”, salientou, referindo que os “últimos quatro a cinco anos têm sido muito fracos”.
A seca sentida este ano é, na sua opinião, “mais um problema a juntar a tantos outros, como os custos de produção e à vespa asiática”.
João Campos não prevê uma quebra tão acentuada como em 2021, mas, mesmo assim, fala em “menos 50%” de produção nas suas 50 colmeias. É apicultor há quase 40 anos e salientou que “não tem sido fácil nos últimos anos”. “No ano passado deu para as despesas e mal”, apontou.
O presidente Alberto Machado revelou ainda um projeto que se pretende concretizar no concelho e que passa pela criação do “primeiro santuário de abelhas em Portugal”.
“É um conjunto de colónias, que constituem um ou mais apiários de uma região com a garantia de que essas abelhas não estão em contacto com produtos químicos. Trata-se de área completamente natural e o que queremos é dar mais vida às abelhas”, afirmou.
Para divulgar o setor, a Câmara de Vila Pouca de Aguiar realiza a Feira do Mel e do Artesanato, entre sexta e segunda-feira (feriado nacional), no Parque Termal de Pedras Salgadas.
“A feira tem já um conjunto de clientes garantido, assim fossem as produções. É uma feira significativa porque contribui para a socioeconomia local”, apontou Alberto Machado.
O apicultor João Campos participa no certame e disse que este ajuda a “escoar os produtos” e a “divulgar a marca”.
São 15 os expositores de mel num total de 107 que vão participar na 21.ª edição do certame que, este ano, abre as portas já sem as restrições impostas pela pandemia de covid-19.
Para além do mel, a feira divulga a gastronomia e ainda o trabalho das de artesãos locais e a organização espera a presença de muitos visitantes, entre eles os emigrantes que nesta altura regressam à terra natal.
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