Há uns anos, o Banco Central Europeu (BCE) desafiou os cidadãos a serem banqueiros centrais num jogo online. A missão era simples: confrontados com alguns indicadores económicos, os jogadores teriam de decidir se mantinham, subiam ou desciam as taxas de juro para assegurarem uma inflação de perto 2%. A estratégia não era muito complicada. Se os dados indiciassem um crescimento acentuado da economia, o mais adequado seria subir juros. Pelo contrário, se começassem a surgir sinais de abrandamento, a decisão vencedora passaria por baixá-los. Mas o BCE confronta-se atualmente com um cenário que poucos imaginariam ser possível. Os preços têm subido de forma galopante, ao mesmo tempo que o risco de recessão está a aumentar.
Face à escalada da inflação, o banco central decidiu, a 21 de julho, fazer a primeira subida de juros em 11 anos. A taxa a que empresta dinheiro aos bancos nas principais operações de refinanciamento aumentou de 0% para 0,50%, e o juro que cobra para guardar o dinheiro das instituições financeiras na sua facilidade de depósito deixou de estar em valores negativos, uma política que até há bem pouco tempo tinha levado as Euribor para menos de 0%. Ainda é cedo para perceber se esta medida levará o BCE a ganhar ou a perder o jogo do controlo dos preços e estabilidade da economia. Nas duas últimas vezes em que tinha aumentado as taxas, em 2008 e 2011, essa decisão foi seguida por recessões que forçaram a instituição a fazer uma espécie de mea culpa, revertendo rapidamente esses agravamentos. Nessas ocasiões, se estivesse a jogar o seu próprio jogo, o banco central teria, muito provavelmente, um resultado não muito famoso.