“Criado pelos pobres e roubado pelos ricos”, “futebol para os fãs e não para os 1%” ou “adeptos em vez de clientes”. Foram algumas das muitas mensagens de contestação ao anúncio da criação de uma Superliga Europeia por parte de 12 clubes que tentaram entronizar-se como uma espécie de senhores feudais do desporto-rei. Para alívio de muitos adeptos, a ideia para esta competição parece ter caído por terra. Mas os motivos que levaram à tentativa de criar uma competição fora da UEFA e em que as equipas têm lugar cativo e uma fatia garantida do bolo milionário, sem se olhar ao mérito, não desapareceram. E este pode ter sido apenas um lance num jogo longo e que vai no sentido de tornar os mais ricos cada vez mais ricos, desnivelando ainda mais o relvado e aumentando a dificuldade de os pobres poderem bater o pé às grandes potências do futebol.
O que moveu estes 12 clubes? Florentino Pérez, presidente do Real Madrid e da nova competição, foi claro nas entrevistas que concedeu. Defendeu que a Superliga Europeia era a tática para salvar o futebol, que diz estar à beira da ruína. Mas ter o mentor da política de contratação de galácticos e líder de um dos clubes que mais faturam no mundo a queixar-se de falta de dinheiro e, em simultâneo, a propor uma forma de aumentar ainda mais as receitas da elite do futebol europeu causou perplexidade e revolta. Como é que os gigantes de uma indústria que não parava de crescer e que faturava cada vez mais milhões antes da pandemia têm uma defesa tão fraca para lidar com uma queda nas receitas? E como admitir que, para resolver esse problema, possam querer receitas garantidas ao ter lugar cativo numa nova competição milionária?