À chegada, o check-in é rápido e simples: num pequeno computador basta inserir os dados da reserva, e rapidamente se tem acesso às chaves do quarto. Na receção, dois robôs estão estacionados à espera de serem chamados para as suas funções: levar água ou toalhas aos quartos, ou qualquer amenity que esteja em falta. Este é também o único serviço de quarto geralmente disponível neste tipo de hotéis, cuja primeira unidade da Península Ibérica tem data de abertura marcada para agosto de 2020, em soft opening.
Localizado na Rua de Gonçalo Cristóvão, perto da Trindade, no Porto, vai ter cerca de 150 quartos, ginásio, espaços comuns para trabalhar, restaurante, sky bar e um terraço no telhado com vista sobre a cidade, acessível a hóspedes e visitantes.
Numa altura em que o distanciamento social vai continuar essencial no combate ao coronavírus, um hotel que é altamente tecnológico e que dispensa contactos entre humanos para a maioria das funções pode revelar-se uma vantagem competitiva tremenda. Tanto o check-in como o check-out podem ser feitos de forma automática e com recursos a quiosques digitais, os pedidos à receção são feitos por telefone e entregues pelos já referidos robôs (que deverão ter nomes, mas os adotados para a unidade portuguesa ainda não foram revelados); o acesso aos vários pisos do hotel é feito com a chave do quarto; os espaços comuns são de utilização livre e têm áreas alargadas. Até as omeletes do pequeno-almoço são preparadas por um pequeno robô, sem que qualquer outra pessoas que não o próprio consumidor tenha que ter acesso aos alimentos que vão ser comidos.

No final do ano passado, o diretor geral da UIP, Carlos Leal, dizia à VISÃO que esperava poder ter no seu hotel no Porto tantos hóspedes nacionais como estrangeiros, e relativizava o facto de o YOTEL poder estar muito associado a consumidores altamente tecnológicos. “Porque os portugueses são tão avançados tecnologicamente quanto outros países do mundo. A minha mãe tem 87 anos e faz chamadas no Facebook no Viber connosco”, dizia com uma gargalhada. Na ocasião, o responsável esperava poder abrir a unidade do Porto no início do ano, mas alguns atrasos nas obras tinham atirado a abertura para abril. O Grande Confinamento voltou a trocar as voltas ao grupo, mas de agosto não passará, confirmou fonte oficial da empresa à VISÃO.
A marca YOTEL é virada essencialmente para quem viaja em trabalho, e que tem uma boa relação com a tecnologia. As unidades de aeroporto (o seu grande diferencial) são muito requisitadas, sobretudo porque o hotel se assume como uma marca que dá aos hóspedes tudo e apenas aquilo de que eles precisam, por um peço competitivo. Genericamente, os quartos têm pouco mais de 10 metros quadrados, e as camas são como as que se encontram numa cabine de avião: durante o dia estão recolhidas para dar mais espaço ao quarto, mas à noite crescem e transformam-se num leito confortável, onde colchões e almofadas de alta qualidade garantem o descanso desejado. Tomadas USB ao longo de todo a habitação, a arrumação suficiente para as malas de uma viagem curta e um bom plasma ao qual conseguimos ligar telefones ou computadores assim que entramos são outras das vantagens desta marca que está presente em cidades como Nova Iorque, Istambul ou Singapura.

“Eu acredito que o conceito, em termos de oferecer o que o cliente necessita e tecnologicamente avançado, é o que as pessoas procuram hoje, seja qual for a nacionalidade. Acredito que primeiro haverá algum interesse por curiosidade, admito que sim. Mas instalando o conceito, prevejo que aconteça o mesmo fenómeno que tivemos nos EUA”, acrescentava o diretor geral da UIP. Depois da abertura do YOTEL de Nova Iorque – que acabou por acontecer por uma questão de oportunidade de negócio, revelou na altura – várias outras cadeias seguiram-lhes o exemplo em termos de organização do espaço, decoração e afins, revela com o sorriso fácil que o caracteriza.
A conversa com o responsável aconteceu dias antes de a VISÃO ir conhecer o YOTEL de Singapura, a unidade modelo da marca na Ásia, onde a todas as comodidades anteriormente descritas se junta uma piscina – para combater o clima quente e húmido – e uma vista de cortar a respiração sobretudo nos quartos dos pisos superiores. E por lá, a Yolanda e o Yoshi foram os robôs responsáveis por levar aos quartos o que quer que estivesse em falta.
O YOTEL do Porto, com vista sobre a cidade e mesmo sem piscina, vai assemelhar-se bastante ao seu congénere singapurano, mas com a vantagem de estar alojado num edifício que foi reabilitado para o receber. O antigo encontra o novo sem magoar a cidade, mas pedindo a todos que a conheçam.

“No Porto, a geração de quarto e de produto já é mais avançada [do que a de Singapura]. Temos parcerias, por exemplo em São Francisco, com startups que estão em Silicon Valley para nos ajudar. E todos os trimestres temos uma apresentação do grupo deles onde tentam vender-nos o produto que estão a fazer”. O objetivo é conseguir estar na vanguarda da tecnologia, sem perder conforto. O mesmo princípio aplica-se ao bar e ao restaurante, onde a oferta deve ser de qualidade, sem ser pretensiosa – em Singapura o objetivo foi atingido, no Porto ainda teremos de esperar para confirmar.
No mesmo sentido, a cidade portuguesa vai ter quartos um pouco maiores do que a média internacional da marca, uma vez que para garantir a qualificação de 4 estrelas os quartos têm de ter um mínimo de 17 metros quadrados. “Os nossos terão entre 19 e 20”, revela Carlos Leal, referindo que por também os serviços de quarto vão estar disponíveis durante um horário diferente, por determinação das autoridades.
Num ano em que se espera uma quebra abrupta de turistas estrangeiros em Portugal e na procura hoteleira, no geral, abrir um novo espaço pode parecer uma atitude arriscada. Mas, quem sabe se a impessoalidade de que alguns apontam a este tipo de oferta não poderá ser um dos segredos da retoma.