Ter um bom líder de equipas e um bom projeto de trabalho, mas também uma assinatura gratuita de um popular serviço de streaming de filmes e séries, são fatores que permitem às empresas reter os melhores talentos – especialmente quando se trata da geração dos millennials. “Pagar o Netflix, em vez de oferecer um lugar de estacionamento a quem não tem carro, pode ser mais importante para recrutar ou reter talentos”, afirmou José Viana Ferreira, partner da consultora Everis. O exemplo avançado pelo gestor, no painel da conferência “Futuro do Trabalho” sobre “Os desafios da contratação e da retenção de talento”, ilustra até onde vão as empresas para manter os melhores talentos, sejam empresas de serviços como a Everis, grupos industriais como a Frulact ou multinacionais tecnológicas como a Xerox.
“Reter o talento é fundamental. Não queremos passar seis meses ou um ano a formar uma pessoa que depois se vai embora. Há sempre uma questão monetária, mas não é a única. É a questão do projeto que é importante. As pessoas, sobretudo quando têm 25 ou 26 anos, querem saber como vão evoluir, onde vão estar daí a três ou cinco anos. Temos de ouvi-las, percebê-las e fazer o caminho com elas”, avançou ainda o partner da Everis.
Na Frulact, uma empresa industrial de raiz familiar presente em vários países, a gestão tem de ser “flexível”, para se adaptar “a realidades culturais e laborais diferentes”, explicou o CFO Duarte Faria. “É fundamental percebermos a faixa etária dos millennials”, admitiu, embora ressalvando que esta é uma realidade da Europa e da América do Norte, mas não de África. “Os mecanismos de retenção podem ser as condições laborais, a flexibilidade e o equilíbrio entre vida familiar e profissional” mas, como frisou, “são as lideranças que entusiasmam as pessoas e as fazem ficar”. “Ninguém fica num sítio quando não se revê nas pessoas que lideram”, corroborou, por seu turno, João Viana Ferreira.
José Esfola, diretor geral da Xerox Portugal, sugeriu que a criação de uma marca como empregador, para atrair e reter o talento, é outro dos fatores críticos. “Se ganhamos o prémio das melhores empresas para trabalhar, somos inundados de currículos”, exemplificou.
Sobre o ambiente laboral da Xerox em Portugal, o gestor referiu duas realidades distintas: Uma área de negócio tradicional, que vem de uma cultura muito hierarquizada com 65 anos de existência, e um centro de serviços mais recente que trabalha para o exterior. “Para estas pessoas, o lugar de estacionamento pode ser irrelevante, mas para os outros seria certamente um problema”, admitiu. “Mas temos que tentar satisfazer toda a gente”, concluiu.
Na Revolut, os CV são analisados à lupa
No painel seguinte, Ricardo Macieira, country manager da Revolut Portugal, explicou o que procura nos currículos que esta fintech recebe diariamente. Dependendo da posição a preencher, o gestor tenta sempre “encontrar algo que faça sentido, que mostre que a pessoa progrediu ou que alcançou uma posição de relevo num curto espaço de tempo, que mostre que a pessoa é altamente motivada”.
No negócio da Revolut, “a velocidade e a tomada de decisão” são os valores fundamentais, mas Ricardo Macieira garante que vê “todas as candidaturas manualmente”. A seguir, o candidato é convidado a desenvolver um projeto que permita avaliar se pensa out of the box e averiguar qual é o seu mindset. O recrutamento termina com uma entrevista e uma proposta de trabalho. “É assim que percebemos se a pessoa está preparada para uma posição na Revolut e se terá autonomia para tomar decisões sozinha”, acrescentou.