Era o segundo desastre com o mesmo tipo de avião e os mercados não perdoam erros destes: a empresa perdeu quase um quinto do seu valor em bolsa. Um desastre financeiro a juntar à incomparavelmente mais trágica desgraça humana – ao todo, morreram 346 pessoas.
A dúvida está definitivamente instalada: algo parece errado com o 737 Max, uma versão recente e atualizada de uma aeronave que ia já na quarta geração. A frota global foi mandada aterrar e a empresa tornou-se o alvo de uma investigação criminal nos EUA sobre a certificação e comercialização do avião. O atraso na entrega de projetos à NASA também ajudou a reduzir drasticamente a fé no trabalho da Boeing.
Na Europa, diga-se, a vida não lhe correu melhor. Avançando em bloco, as autoridades da segurança aeronáutica interditaram não só o Boeing 737 Max 8 como o Max 9, nos 32 países regidos pela mesma entidade europeia – Portugal, incluído.
E foi assim que março de 2019 se tornou o mês horribilis na história daquela companhia, depois de, na manhã do dia 10, um dos aviões 737 Max da Boeing ter caído logo após descolar na Etiópia, matando a tripulação e os passageiros que seguiam a bordo.
Num instante, todos se lembraram que em outubro de 2018 um outro 737 Max tinha caído na Indonésia, levando consigo a vida de 189 pessoas. Em reação aos acontecimentos, companhias aéreas um pouco por todo o mundo começaram a fazer aterrar aquele tipo de avião, exigindo detalhes sobre o que tinha acontecido no voo da Ethiopian Airlines.
Os primeiros relatórios a serem conhecidos sugeriam que ambos os acidentes estavam ligados a um software que não foi adequadamente explicado aos pilotos.
Ao mesmo tempo, começaram as exigências de outras companhias. A Norwegian Air, por exemplo, tornou-se na semana passada a primeira a declarar que exigirá que a Boeing pague pelo tempo de voo perdido. A Garuda, que é de origem indonésia, veio a público anunciar que já cancelou um lote de pedidos para o 737 Max.
Tudo isto explica que, em menos de duas semanas, as ações da Boeing tenham caído quase 18 por cento. Em valor, foram mais de 40 mil milhões de dólares – qualquer coisa como 35,3 mil milhões de euros. Se compararmos com o PIB português, são também pouco mais de 18 por cento (o valor de mercado da Boeing é um pouco maior do que a riqueza anualmente produzida em Portugal).
A queda foi publicamente assinalada também porque, há um ano, no início de 2018, a empresa registava lucros estratosféricos – de mais de 115% – e desafiava todas as previsões.